Título: Sem-terra veterano rejeita 'convocação'
Autor: Roldão Arruda
Fonte: O Estado de São Paulo, 02/05/2005, Nacional, p. A9

Pela 1.ª vez em 8 anos, acampado não atendeu chamado do MST PRESIDENTE EPITÁCIO - Pela primeira vez em oito anos de militância, o acampado Alcides Dias, de 44 anos, o Barba, não atendeu a uma convocação do Movimento dos Sem-Terra (MST) para uma jornada de lutas. Na sexta-feira, ele recusou a vaga que lhe fora reservada num dos sete ônibus que deixaram o Pontal do Paranapanema, no oeste de São Paulo, em direção a Goiânia, para a marcha dos sem-terra a Brasília. "Nunca fiz isso antes, mas uma hora a gente cansa de conversa." Desiludido com o movimento, Barba não vê a hora de pegar a mulher Emília e os seis filhos - com idades entre 7 e 17 anos - e ir embora para Rondônia. Sua família é uma das poucas que resistem no Acampamento Jahir Ribeiro, em Presidente Epitácio, que já foi o maior do País. Chegou a ter 4.200 famílias quando foi formado, em maio de 2003, pelo então líder José Rainha Júnior.

Rainha encheu os barracos com moradores das periferias das cidades da região, repetindo a promessa do presidente Luiz Inácio Lula da Silva de assentar todas as famílias acampadas. Como a terra não saiu, os sem-terra voltaram para casa. Restam 112 habitados, muitos deles com "andorinhas", pessoas que moram na cidade e passam por ali eventualmente.

Rainha foi embora, depois de brigar com Edi Ronan, outro líder. Com mandado de prisão, Ronan também desapareceu. Os que ficaram reclamam das promessas não cumpridas. "Quando cheguei, falaram que a terra sairia em 60 dias, mas já passaram dois anos", diz Barba, que participou de várias marchas e invasões. Na última, em março, levou os filhos mais velhos, de 16 e 17 anos, para a ocupação da Fazenda São Domingos, em Sandovalina.

As cestas básicas que atendiam os acampados foram cortadas depois de denúncias que estariam sendo vendidas. A última chegou em dezembro. Sem ajuda do MST, os acampados trabalham nas lavouras apanhando algodão. Barba leva os filhos mais velhos. "Eles agüentam o trabalho". Os outros quatro filhos estão na escola.

Dias resistiu ao assédio do coordenador Joaquim Fermino, de 57 anos, que corria o acampamento buscando adesões para a marcha. "Surgiram vagas nos ônibus e estou tentando preencher." Para os 32 lugares, ele tinha conseguido só 12 candidatos. Fermino acenava com a chance de sair a terra depois da marcha. "Vamos dar um xeque-mate no Lula."