Título: Índios exigem que policiais federais deixem reserva em RR
Autor: Vasconcelo Quadros
Fonte: O Estado de São Paulo, 02/05/2005, Nacional, p. A9

Mucuxis não querem mais a tutela da Funai e afirmam que se encontrarem estranhos no local vão "prender de novo e amarrar" BOA VISTA - Os índios macuxis contrários à homologação da reserva Raposa Serra do Sol em área contínua não querem a tutela da Funai e exigem, como condição para evitar novos conflitos, que policiais federais e funcionários do Ibama deixem a área. A libertação, no último sábado, dos quatro policiais tomados como reféns, após nove dias de cativeiro, reduziu a tensão, mas não diminuiu a animosidade. "Se encontrarmos policiais na área da reserva vamos prender de novo e amarrar", ameaçou um dos líderes, Abel Barbosa, durante reunião no Palácio do Governo, em Boa Vista, para discutir o pacote de medidas compensatórias para Roraima. Os líderes da aldeia Flexal, Lauro Barbosa e Altevir de Souza, insistiram que, do governo federal, só querem parceria para a execução de projetos. A reunião foi presidida pelo governador Ottomar Pinto e estavam presentes o superintendente da Polícia Federal, José Francisco Mallmann e dois enviados do governo: o assessor da Casa Civil Celso Corrêa e Camilo Menezes, do Gabinete de Segurança Institucional. Ninguém contestou os índios.

A Polícia Federal começou a deixar a região neste final de semana. Os outros órgãos como Funai e Ibama já não tinham nenhuma influência sobre os índios que são contra a emancipação. "O comando lá dentro deve ser do governo do Estado", enfatizou Barbosa. O governo federal tem um ano para retirar os brancos e implementar as medidas de substituição das ações estaduais anunciadas quando o decreto foi editado.

Uma divisão entre os macuxis dificulta um entendimento. Os que são a favor da homologação, reunidos em torno do Conselho Indígena de Roraima (CIR), querem os brancos fora da área. Os macuxis ligados à Sociedade de Defesa dos Índios Unidos de Roraima (SODIUR) defendem a permanência das quatro comunidades excluídas pelo decreto - Socó, Mutum, Surumu e Água Fria - e a continuidade da parceria com os arrozeiros. Num documento com doze reivindicações, pedem a inclusão da Raposa Serra do Sol, no programa Luz Para Todos e a concessão de 250 bolsas por ano para estudantes índios nas universidades federais e linhas de crédito junto ao Banco da Amazônia e Banco do Brasil.

Com o cacife de quem garantiu a libertação dos reféns, o governador Ottomar Pinto admite que a homologação é uma decisão de Estado consumada. "Se tivesse que anular o decreto, seria melhor o presidente renunciar", diz. Ele sugere, no entanto, que o governo seja flexível quando for definir as medidas de compensação. Entre as reivindicações do governador estão a preservação das comunidades excluídas pelo decreto e as áreas produtivas controladas pelos arrozeiros e a definição da situação fundiária de Roraima, que Ottomar Pinto considera "angustiante."