Título: Líder britânico nega decisão antecipada
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Fonte: O Estado de São Paulo, 02/05/2005, Internacional, p. A10

NA DEFENSIVA: O primeiro-ministro britânico, Tony Blair, negou ontem que tenha acertado um pacto com o presidente americano, George W. Bush, para lançar uma invasão ao Iraque oito meses antes do início da guerra, em março de 2003. O primeiro-ministro admitiu, porém, que seu governo discutiu, numa reunião em 22 de julho de 2002, a possibilidade de depor Saddam Hussein. "Na verdade, eu falei sobre a mudança de regime se não fosse possível forçá-lo (Saddam) a cumprir com a lei internacional", disse Blair em telefonema a uma rádio. "É claro que, durante todo o tempo, aquilo em que se estava pensando era o que aconteceria se não pudéssemos fazer isso (Saddam cumprir as exigências de desarmamento) de um modo pacífico", afirmou o líder britânico à BBC, ao ser indagado sobre o memorando divulgado ontem pelo Sunday Times. "A idéia de que tínhamos definitivamente decidido por uma ação militar naquela época é errada e desmentida pelo fato de que, vários meses depois, fomos à ONU para obter uma resolução final", prosseguiu Blair. "Se a resolução da ONU tivesse sido atendida por Saddam, essas discussões teriam acabado." A divulgação do documento deu munição para os rivais políticos de Blair, que o acusam de mentir para o público e os parlamentares sobre o Iraque e de ter fechado um acordo com Bush bem antes de ter buscado apoio da ONU. Na época, Blair defendeu a necessidade da guerra alegando que as armas de destruição em massa de Saddam eram uma ameaça. No entanto, equipes de investigação enviadas pelo governo americano ao Iraque após a deposição de Saddam não encontraram sinais de que o regime iraquiano tivesse armas de destruição em massa. Os opositores de Blair aproveitaram o caso para atacar sua integridade, mas as pesquisas mostram que o Partido Trabalhista, do primeiro-ministro, deverá obter um terceiro mandato nas eleições de quinta-feira. "(Os opositores) continuam a falar sobre a guerra no Iraque porque não têm nada a dizer sobre a economia, o serviço de saúde, escolas, lei e ordem - as questão que determinarão o futuro de nosso país", afirmou o primeiro-ministro.