Título: EUA dão sinais de que pretendem esvaziar o tratado
Autor: Paulo Sotero
Fonte: O Estado de São Paulo, 02/05/2005, Internacional, p. A12

DÉFICIT DE CONFIANÇA: Se não bastassem as violações do TNP pela Coréia do Norte, Irã, Líbia e Iraque de Saddam Hussein, os EUA também contribuíram para o déficit de confiança no tratado e são hoje parte dos obstáculos à busca de consenso na Conferência de Revisão. Washington sustentou inicialmente que o TNP deveria ser reescrito para vedar a possibilidade contemplada no acordo de nações não-nucleares desenvolverem tecnologia e produzirem material físsil para fins pacíficos. Mais recentemente, o governo Bush inclinou-se a exercer sua aversão por mecanismos multilaterais indicando que concentrará seus esforços de não-proliferação no Grupo de Fornecedores Nucleares, associação de 30 países criada em 1978 por iniciativa americana em reação à explosão da primeira bomba atômica pela Índia, em 1974. Num sinal de sua inclinação a esvaziar o TNP, Washington escalou uma delegação de escalão médio para a conferência. Outras ações de Bush apontam na mesma direção. Nos últimos quatro anos, seus governo renegou dois compromissos cruciais que o país assumiu na conferência de revisão do TNP de 2000. Primeiro, abandonou o Tratado de Mísseis Antibalísticos. Depois, anunciou a oposição à ratificação de um tratado abrangente de proibição de testes nucleares. A razão desta última decisão reside na adoção, pelo governo, de um programa para o desenvolvimento de "minibombas" atômicas capazes de penetrar fortificações subterrâneas, que Washington considera arma crucial na guerra ao terror.