Título: Estudo do BC mostra real ainda competitivo
Autor: Sérgio Gobetti
Fonte: O Estado de São Paulo, 02/05/2005, Economia, p. B1

Comparação com cesta de moedas de outros parceiros comerciais indica variação mínima nos últimos anos BRASÍLIA - Apesar da chiadeira de vários setores empresariais e do próprio governo sobre os perigos da desvalorização do dólar para as exportações brasileiras, os números do Banco Central mostram que o real ainda está num nível capaz de preservar a competitividade das exportações brasileiras, principalmente para setores cujas vendas não se concentram em dólar. Comparando o valor do real com as moedas de 16 países para os quais o Brasil exporta - os Estados Unidos entre eles - os dados mostram que o real tem hoje um valor próximo à média dos últimos seis anos. Para formar a "cesta de moedas" com a qual é feita essa comparação, cada moeda estrangeira tem um valor ponderado conforme sua importância no comércio. Na cesta de moedas, o dólar americano tem um peso de 25%. A comparação do real em relação à cesta chama-se taxa de câmbio efetiva real.

Essa taxa é, na prática, a comparação do real com uma imaginária moeda unificada dos principais parceiros comerciais do Brasil. Nessa abordagem, a taxa de câmbio de março era de 2,52 - o que é uma taxa razoável, considerando que a média, desde janeiro de 1999 até março passado, foi de 2,50. Em abril, pelas projeções parciais, essa taxa deve ter caído para 2,45 - ainda assim, um câmbio melhor do que os 2,17 de 2002, antes da crise de desconfiança pré-eleitoral que fez o dólar bater na casa dos R$ 4,00.

De acordo com os técnicos do BC, esses números ajudam a explicar por que a balança comercial continua batendo recordes, apesar da queda do dólar. Eles mostram que a moeda está se desvalorizando não só em relação ao real, mas também a outras moedas. Por isso, as exportações não foram prejudicadas na magnitude que alguns analistas esperavam. "Podemos ter algum impacto nas exportações aos EUA, mas com outros parceiros comerciais continuamos tendo ganhos substantivos", diz uma fonte do BC.

Quanto menor a taxa de câmbio, maior o custo em moeda estrangeira do produto brasileiro, o que dificulta sua venda. No caso das exportações aos EUA, é o que acontece em alguns setores, como o calçadista, que compete com a China, onde a taxa de câmbio é fixa em relação ao dólar.

Comparado apenas com o dólar, o real está cerca de 12% mais valorizado do que na média de 1999 a 2005, mas em relação ao euro a moeda brasileira se desvalorizou 10%. Isso explica como os efeitos do câmbio podem ser sentidos de forma variada nos diferentes ramos da exportação.

Apesar disso, os líderes empresariais argumentam que há uma perda generalizada de rentabilidade dos exportadores, provocada pela pressão do câmbio e pelos maiores custos dos insumos de produção. "Mesmo que o real permaneça alinhado à cesta de moedas, a rentabilidade do exportador vem caindo por causa dessas pressões internas e de ineficiências sistêmicas", diz o presidente da Confederação Nacional da Indústria (CNI), Armando Monteiro Neto.

Ele prevê que a balança comercial não será afetada até o início do ano que vem, pelo menos. A esperança é que, até lá, o cenário interno possa melhorar, permitindo que a política monetária possa ser relaxada mais uma vez.