Título: Encontro tenta evitar crise nas negociações
Autor: Paulo Sotero
Fonte: O Estado de São Paulo, 02/05/2005, Economia, p. B5

Prazo previsto para conclusão de acordos, que vence em julho, está ameaçado GENEBRA - Os ministros do Comércio de países ricos e em desenvolvimento se reúnem em Paris nesta semana sob pressão e com a responsabilidade de evitar uma crise nas negociações sobre o livre comércio global. O diretor-geral da Organização Mundial do Comércio OMC), Supachai Panitchpakdi, soou o alarme sobre o ritmo lento das negociações no órgão baseado em Genebra, a apenas três meses do prazo previsto para que os países membros concluam alguns acordos fundamentais.

Supachai disse na semana passada aos países membros que começava a "ter dúvidas" de que o prazo seria cumprido e as próximas semanas seriam cruciais para a Rodada Doha das negociações de livre comércio da OMC. "Neste ritmo, não conseguiremos. Se não fizermos progressos substanciais em maio, estaremos numa crise."

Os ministros de cerca de duas dúzias dos 148 membros da OMC, incluindo Estados Unidos, União Européia, Brasil e Índia, vão se reunir à margem do encontro anual da Organização de Cooperação e Desenvolvimento Econômico (OCDE).

A perda do prazo de julho poria em perigo as chances de os ministros dos países membros da OMC assinarem um acordo para a rodada em sua próxima conferência, em dezembro em Hong Kong, um passo crucial para que as negociações sejam concluídas em 2006, como planejado.

"As negociações estão se arrastando. Precisamos dar mais energia e ajustar o foco", disse o novo representante de Comércio dos EUA, Rob Portman, que enfrentará seu primeiro teste como negociador comercial internacional depois de suceder Robert Zoellick.

O encontro ministerial, marcado para a tarde de quarta-feira, será precedido por uma série de reuniões menores, notadamente entre funcionários dos Estados Unidos, União Européia, Austrália, Brasil e Índia, hoje e amanhã.

O grupo dos cinco ajudou a abrir o caminho para os acordos de julho de 2004, nos quais a OMC pôs a rodada novamente nos trilhos depois de ela descarrilar com o fracasso da última conferência ministerial em Cancún, México, em setembro do ano anterior. Mas o otimismo criado pelo "pacote de julho" evaporou.

Os negociadores não avançam nas questões de como cortar os subsídios agrícolas nos países ricos, dar um melhor tratamento aos produtores dos países em desenvolvimento e abrir os mercados ao redor do mundo para bens e serviços ao consumidor e industriais, como telecomunicações e turismo.

O Banco Mundial calculou que a conclusão da rodada poderia aumentar as rendas globais em US$ 500 bilhões por ano ao derrubar barreiras comerciais, particularmente entre países em desenvolvimento.

Entre as questões mais urgentes, está uma discussão técnica sobre o cálculo de tarifas, que tem importância vital para importadores ricos de produtos agrícolas, como União Européia e Suíça, e países exportadores.

Sem um acordo sobre como converter para porcentagens o grande número de tarifas que os importadores atualmente cotam em dólares (ou alguma outra moeda) por tonelada, a fim de oferecer um ponto de partida, não poderá haver discussão séria sobre uma fórmula para os cortes.

Os negociadores também não chegaram ainda a uma fórmula para os bens industriais, uma questão que ignora as tradicionais divisões entre países em desenvolvimento e desenvolvidos.

As negociações sobre os serviços, que respondem por grande parte da economia global, estão ainda mais atrasadas: cerca de um terço dos membros da OMC ainda não anunciou suas posições iniciais sobre quanta abertura de mercado estão preparados para aceitar.