Título: Nos EUA, mais um déficit recorde
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Fonte: O Estado de São Paulo, 13/04/2005, Economia, p. B8

Resultado comercial de fevereiro foi inédito e superou os US$ 61 bi; na área fiscal, rombo em março foi de US$ 71,2 bi O déficit comercial dos Estados Unidos atingiu novo recorde em fevereiro, chegando a US$ 61,04 bilhões, 4,3% a mais do que em janeiro (US$ 58,5 bilhões), acima da expectativa dos analistas, puxado pelo aumento das importações de petróleo e têxteis. E em março, o déficit fiscal chegou a US$ 71,2 bilhões, ligeiramente abaixo dos US$ 72,9 bilhões do mesmo mês do ano passado, e acima do que os economistas esperavam. Os resultados negativos prejudicaram as Bolsas, num primeiro momento, mas depois as americanas se recuperaram. É provável que, agora, os analistas reduzam as estimativas para a expansão do Produto Interno Bruto (PIB) no primeiro trimestre. Ao mesmo tempo, a indústria americana de tecidos e do vestuário aumenta a pressão sobre o presidente Bush no sentido de limitar a importação desses produtos da China, agora que o sistema de cotas deixou de funcionar. Em fevereiro, a importação de têxteis e vestuário da China subiu 9,8%, embora o déficit global dos EUA em relação ao país asiático tenha caído 9,2% ante janeiro, para US$ 13,9 bilhões. Em projeção anualizada, o déficit de fevereiro representaria US$ 717,2 bilhões, ante os US$ 617,1 bilhões registrados no ano de 2004.

O enorme déficit comercial tem preocupado os economistas americanos. Eles alertam que os Estados Unidos precisam continuar atraindo capitais externos para cobrir a diferença entre importações e exportações. Se por qualquer motivo os estrangeiros decidirem ficar com menos investimentos denominados em dólares, como ações e bônus do Tesouro, o valor dos papéis das empresas americanas poderia cair muito, e os juros poderiam subir acentuadamente. Para os críticos do governo, os chamados déficits gêmeos demonstram que a política de livre comércio de Bush não funciona e contribuiu para a perda de 3 milhões de empregos na indústria dos Estados Unidos desde 2000.

Mas o governo argumenta que o déficit comercial reflete o fato de a economia americana estar crescendo num ritmo muito mais forte do que o registrado pelos principais parceiros do país. Por isso, os EUA importam muito mais e os demais países compram menos produtos e serviços americanos.

Sábado, na reunião dos 7 países mais industrializados (o G-7), o secretário do Tesouro, John Snow, pedirá novamente à União Européia e ao Japão que sigam políticas voltadas para o crescimento econômico.

O dólar está em queda em relação ao euro, libra e iene há três anos, o que tem impedido a explosão do déficit comercial. Mas alguns economistas dizem que a moeda deveria cair ainda mais para permitir o aumento das exportações e a diminuição das importações, já que eles prevêem uma expansão maior do déficit comercial este ano.

GREENSPAN

Ontem, o Comitê Orçamentário do Senado informou que dia 21 ouvirá Alan Greenspan, presidente do banco central americano, sobre o panorama fiscal do país e sobre os déficits gêmeos.

"Greenspan deverá avaliar como alterar o processo orçamentário à medida que o Congresso começar a enfrentar os desafios representados pela aposentadoria dos americanos que hoje estão na meia-idade", dizia a nota do comitê.