Título: Pobreza e petróleo são destaques na pauta do FMI
Autor: Rolf Kuntz
Fonte: O Estado de São Paulo, 13/04/2005, Economia, p. B9

Brasil continua a defender a criação de um esquema de ajuda preventiva para evitar crises;também continua em discussão a criação de um imposto internacional para socorrer os países pobres O combate à pobreza será o tema central de um jantar que que reunirá no sábado o secretário-geral da Organização das Nações Unidas (ONU), Kofi Annan, e os ministros integrantes dos principais comitês políticos do Fundo Monetário Internacional (FMI) e do Banco Mundial (Bird). O ministro da Fazenda do Brasil, Antonio Palocci, participará na qualidade de membro tanto do Comitê Monetário e Financeiro do FMI quanto do Comitê de Desenvolvimento do Bird. Já se calcula que muitos países serão incapazes de alcançar até 2015 as Metas do Milênio de redução da pobreza estipuladas na última década pela ONU. Governos de todo o mundo reconhecem que é preciso fazer mais, e essa preocupação, antes característica das políticas do Banco Mundial, ganhou destaque na pauta do FMI. O Fundo iniciou há alguns anos um programa de redução das dívidas de países muito pobres, mas o trabalho permanece incompleto.

Como financiar a redução dessas dívidas é uma das questões que dividem os governos. Alguns propõem novos leilões de ouro do FMI. Os presidentes do Brasil, Luiz Inácio Lula da Silva, da França, Jacques Chirac, e do Chile, Ricardo Lagos, defendem a criação de impostos internacionais para a coleta de recursos destinados ao socorro aos pobres. O governo inglês prefere levar dinheiro com a emissão de títulos no mercado, que os governos terão de resgatar dentro de alguns anos.

A questão da pobreza, que certamente continuará em debate por muito tempo, será um dos três assuntos principais da reunião de primavera do FMI, nesta semana. Os outros dois serão as perspectivas da economia global em 2005 e 2006, marcadas pelos altos preços do petróleo, e o desenho de uma estratégia de médio prazo para a instituição. A proposta brasileira de um novo esquema de prevenção de crises, posto em discussão no ano passado, é parte do terceiro tema.

Com a alta das cotações do petróleo, o problema da energia ganhou destaque na lista de preocupações de economistas e dirigentes do FMI. Técnicos do Fundo concluíram, num estudo recente, que os investimentos têm sido insuficientes para ampliar a capacidade de oferta de petróleo na proporção necessária. A demanda continua a crescer e os produtores têm pouca folga para acompanhar o mercado.

AVALIAÇÃO AMPLA

Os dados e conclusões principais desse estudo foram transformados num capítulo do novo Panorama da Economia Mundial, que circula duas vezes por ano. Esse capítulo foi divulgado na semana passada. A parte inicial do relatório, com a avaliação mais ampla das perspectivas mundiais, será divulgada hoje, oficialmente, e comentada pelo economista-chefe do Fundo, Raghuran Rajan.

Pode-se antecipar o tom dessa avaliação, pelo menos em parte, pelo informe sobre Estabilidade Financeira Global, distribuído no começo do mês: otimismo quanto às perspectivas do crescimento econômico e preocupação diante de alguns desequilíbrios nas grandes economias.

O terceiro tema inclui uma revisão das prioridades do Fundo para os próximos três anos. Esse debate resulta, em boa parte, de uma iniciativa do novo diretor-gerente da instituição, o espanhol Rodrigo de Rato. O assunto é amplo e a discussão abriu espaço para propostas variadas, como a de um novo esquema de financiamento preventivo e a de uma revisão do sistema de cotas.

Políticas saudáveis e o tradicional monitoramento do FMI são instrumentos valiosos de prevenção, concorda o governo brasileiro, mas são insuficientes. Um país pode continuar vulnerável mesmo depois de haver adotado boas políticas fiscais e de balanço de pagamentos, observa o diretor-executivo que representa o Brasil no Fundo, Murilo Portugal. Os fluxos de receita e despesa podem melhorar, tanto nas contas de governo quanto no balanço de pagamentos, sem que isso se reflita de imediato no estoque e no prazo das dívidas. Enquanto esse efeito não ocorre, o país continua sujeito a impactos externos, mesmo que suas políticas sigam os melhores padrões. Esses argumentos, no entanto, ainda não foram suficientes para produzir consenso a respeito do assunto. Há divisão até entre os países ricos. A discussão deverá continuar.