Título: BNDES pode ser saída para a Varig
Autor: Mariana BarbosaIsabel Sobral
Fonte: O Estado de São Paulo, 13/04/2005, Economia, p. B17

Ministro da Defesa José Alencar solicitou encontro entre presidente do banco, Guido Mantega, e representantes da empresa Depois de insistir para a Varig buscar uma solução de mercado para resolver sua crise financeira, o presidente em exercício e ministro da Defesa, José Alencar, recomendou ontem que fossem iniciadas conversas com o Banco Nacional do Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES). Durante reunião com representantes da Fundação Ruben Berta (FRB) e de sindicatos e associações de trabalhadores, juntamente com parlamentares do Estado do Rio Grande do Sul, Alencar telefonou para o presidente do BNDES, Guido Mantega, para solicitar um encontro. A FRB, controladora da Varig, quer do BNDES um financiamento de US$ 300 milhões para reestruturar a companhia no âmbito da proposta de vender parte da empresa para um novo controlador. A reunião no BNDES foi marcada para quarta-feira da próxima semana. Será uma reunião de nível técnico, com diretores e o chefe de gabinete de Mantega, Élvio Gaspar.

Na reunião com Alencar, tratou-se ainda de uma proposta de "outorga" do controle da FRB para o Banrisul, banco do governo gaúcho. Pela proposta, defendida pela Associação dos Pilotos da Varig (Apvar) e que na prática seria uma intervenção branca, o Banrisul assumiria o controle e negociaria com credores. Segundo o vice-presidente da Apvar, Márcio Marsilac, "hoje ou amanhã" será realizada uma reunião na sede do Banrisul. "A FRB não tem mais credibilidade e o Banrisul tem experiência financeira para atuar como gestor interino."

Marsilac garante que a proposta tem apoio do presidente da FRB, Ernesto Zanata e está confiante de que terá a oportunidade de apresentar a proposta ao BNDES na semana que vem. A reportagem não encontrou Zanata para confirmar a informação. A assessoria da FRB declarou, porém, que a proposta não está sendo sequer considerada.

Diante do enorme passivo da Varig, que deve R$ 6,4 bilhões, a avaliação de analistas é de que um eventual aporte do BNDES só poderia ser realizado por decisão política. A VEM, empresa de manutenção do grupo Varig, tenta há meses obter um financiamento do banco, mas não consegue por causa do alto endividamento da Varig.

O fato de Alencar levantar a hipótese de uma "solução de governo" no momento em que a cúpula da Varig dá sinais de que está prestes a concluir negociações com investidores foi interpretado pelo mercado como um sinal de que talvez essas negociações não estejam tão avançadas assim. Todas as propostas têm condicionantes e estas passam invariavelmente pelo governo - seja pelo encontro de contas ou por um alongamento das dívidas com fornecedores públicos.

MERCADO

Com o fluxo de caixa apertado, a Varig tem reduzido sua participação de mercado (ver gráfico). Em março, ela obteve 29,9% de participação, contra 26% da Gol. Com o fim do acordo de compartilhamento de vôos com a TAM a partir de maio, a expectativa é de que já em junho a Gol ultrapasse a Varig. Para o vice-presidente de Planejamento da Varig, Alberto Fajerman, a perda de participação é reflexo de uma estratégia de curto prazo para aumentar a rentabilidade. "Nós não estamos encolhendo, ao contrário, crescemos 14% na comparação com março do ano passado", disse o executivo.