Título: Sem-terra invadem Ministério da Fazenda e pressionam por verbas
Autor: Adriana Fernandes Renata Veríssimo Colaborou: Rosa
Fonte: O Estado de São Paulo, 15/04/2005, Nacional, p. A4

No "abril vermelho" do Movimento dos Sem-Terra (MST), quem tomou de assalto ontem a sede do Ministério da Fazenda foi o Movimento de Libertação dos Sem-Terra (MLST), uma organização mais nova e menor. Os manifestantes invadiram o prédio, reivindicando a liberação dos recursos para a reforma agrária que foram cortados do orçamento da União este ano. Eles acusaram o governo de privilegiar o agronegócio em detrimento dos trabalhadores rurais e pediram a anistia das dívidas dos assentados. Depois de seis horas de ocupação sem violência e duas de negociação com representantes do governo, o grupo deixou o prédio sem ter nenhum pedido atendido. Conseguiu apenas a promessa de que será marcada audiência com o presidente Luiz Inácio Lula da Silva e os ministros da Fazenda, Antonio Palocci, e do Desenvolvimento Agrário, Miguel Rossetto.

Para o comando do MLST, 1.200 pessoas participaram da invasão. A Polícia Militar diz que foram 500. "A ocupação foi um sucesso. Conseguimos chegar ao 7.º andar sem um vidro quebrado", comemorou o líder Bruno Maranhão, do diretório nacional do PT. "A decisão de invadir a Fazenda é emblemática, porque é um ministério que segura o dinheiro."

AÇÃO RÁPIDA

Perto do meio-dia integrantes do MLST que protestavam na Esplanada correram até o prédio da Fazenda e o invadiram. Alguns tomaram conta da entrada, impedindo reação dos homens da empresa que faz a segurança do prédio. A segurança sabia desde cedo do risco de invasão, mas não teve reforços.

Os líderes do MLST comunicaram ao Planalto a invasão do prédio e pediram que "evitasse a polícia". Com os elevadores desligados, o grupo subiu todos os andares pela escada de incêndio. O alvo principal era o gabinete de Palocci, no 5.º andar, que logo foi ocupado. No 4.º andar, a reação foi mais organizada: funcionários montaram uma barricada e impediram a passagem até o gabinete do secretário-executivo do ministério, Bernard Appy.

Todo o prédio ficou imundo com papéis, garrafas vazias de água e restos de comida espalhados pelo chão. Palocci, que estava em São Paulo, era o alvo das palavras de ordem. "Arroz, feijão, Palocci é um ladrão", gritavam os manifestantes, enquanto batiam nas paredes e iam ocupando os andares.

"Palocci é uma decepção para o País", disse Davi Pereira da Silva, do MLST. Para ele, o ministro deve ser demitido. "Palocci está conseguindo pôr o presidente Lula num buraco sem fundo", reclamou. "Com os recursos liberados (no orçamento), não é possível assentar nem 40 mil famílias." Simbolicamente, caixões de Palocci e do ministro Luiz Fernando Furlan (Desenvolvimento) foram queimados fora do prédio.

No Senado, Antonio Carlos Magalhães (PFL-BA) disse, da tribuna, que a invasão revela a "falta de autoridade" no governo. "Enquanto Lula dança na África, o MLST dança no Ministério da Fazenda", criticou ACM. "Se o governo cruza os braços e não reage, significa que não há mais governo."