Título: 'Forma de repasse do SUS facilita a corrupção'
Autor: Karine Rodrigues
Fonte: O Estado de São Paulo, 12/04/2005, Nacional, p. A8

Diretor de escola da Fiocruz diz que crise na saúde do Rio exige mudança do modelo de gestão nos hospitais

A crise na rede pública hospitalar do Rio suscitou uma discussão sobre as fragilidades do Sistema Único de Saúde. E uma proposta de mudança do atual modelo pode surgir de dentro da Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz), centro de excelência administrado pelo governo federal. A descentralização do serviço não é um mal em si, mas deve ser repensada, avalia o epidemiologista Eduardo Costa, pesquisador da instituição e secretário estadual de Saúde no primeiro governo de Leonel Brizola. "Hoje, o dinheiro é repassado de acordo com o número de procedimentos realizados por unidade de serviço. É uma pulverização que facilita a corrupção, pois o paciente não está sendo visto por inteiro", analisa, explicando que, em grande parte dos países da Europa, o cidadão tem à disposição uma rede de atenção básica que foi elaborada para atender pessoas de todas as classes sociais. "Aqui no Brasil é um arremedo para pobre."

O diretor da Escola Nacional de Saúde Pública (ENSP) da Fiocruz, Antônio Ivo de Carvalho, observa que a solução para a crise no Rio exige uma mudança no modelo de gestão dos hospitais, que ele classifica como "arcaico". "Antes, havia uma autonomia de gestão, as unidades tinham orçamentos próprios. Mas a Prefeitura do Rio optou pela centralização, uma medida que vai contra as tendências mais modernas de administração, seja aqui ou no exterior."

Para ele, a vantagem de concentrar as compras na Secretaria Municipal de Saúde é ilusória. O mecanismo, argumenta, engessa as ações dentro dos hospitais, possibilitando problemas como a falta de medicamentos.

"As compras são centralizadas, mas as unidades de saúde têm perfis diferentes. A necessidade e o ritmo de cada uma delas não seguem uma sincronia", diz.