Título: Jucá liga denúncia a caso gafanhotos
Autor: Christiane Samarco
Fonte: O Estado de São Paulo, 12/04/2005, Nacional, p. A10

Defesa vai alegar que acusações contra o ministro foram 'compradas' em Roraima por seus adversários políticos O ministro da Previdência Social, Romero Jucá, vai entregar ao procurador-geral da República, Cláudio Fonteles, documentos que apontariam a ligação dos que o acusam de usar verbas públicas na campanha para o Senado com o "esquema gafanhoto" - caso de corrupção no governo de Roraima, denunciado por ele à Polícia Federal e ao Ministério Público. A entrega da defesa de Jucá foi adiada mais uma vez, agora para dia 18, limite fixado por Fonteles. A investigação do esquema resultou na prisão do ex-governador Neudo Campos (PP), inimigo político de Jucá. Segundo a defesa do ministro, as acusações - feitas por quatro funcionárias da prefeitura de Boa Vista - foram "compradas".

É o que indica o depoimento dado à Superintendência da PF em Roraima pelo sobrinho de uma das denunciantes. Cópia das declarações de Clístenes da Conceição Guivares, que será entregue a Fonteles até quinta-feira, indicaria que Lucimeire Pereira - a mesma funcionária que denunciou ter sido "desviada" de suas funções na Secretaria de Gestão Participativa e Cidadania para trabalhar como cabo eleitoral de Jucá - teria vendido voto e cobrado para fazer a denúncia.

Clístenes foi ouvido pela delegada Margareth Pujol em 20 de novembro de 2003. Ele contou ter conhecido três funcionárias da prefeitura de Boa Vista por intermédio de uma quarta funcionária. E disse que no dia da eleição trabalhou como motorista de Maria José Bezerra de Araújo, "que fazia pagamento nas bocas-de-urna" para as pessoas que votassem no candidato a deputado estadual Jorge Mello.

No depoimento Clístenes diz ainda que não só Maria José como Lucimeire teriam recebido R$ 6 mil em dinheiro do candidato. Lucimeire é a funcionária da prefeitura que aparece em reportagem da revista Época desta semana, denunciando o fato de ter sido desviada de suas funções para a campanha de Jucá, sob pena de ser demitida caso recusasse.

Clístenes revelou ter conhecimento de que as quatro funcionárias da prefeitura - Gilma Gonçalves de Azevedo, Maria José, Lucimeire e sua cunhada Edilene Ferreira de Oliveira - recebiam "salário" do palácio do governo, sem constarem da folha de pagamento. Ou seja, fariam parte do esquema gafanhoto.

"O pagamento mensal é decorrente de acordo pela denúncia feita neste inquérito", disse Clístenes. Segundo dele, o valor pago às denunciantes é de R$ 1.300.

DIRCEU

Em Belo Horizonte, o ministro da Casa Civil, José Dirceu, disse que as denúncias contra Jucá não paralisaram os trabalhos da pasta. Ele reafirmou que o governo não vai se basear em denúncias ou pedidos de investigações para decidir se afasta ou não Jucá. "Não há condenação e, até que se prove o contrário, todos são inocentes."