Título: Demissão na Eletronuclear expõe divergências entre Dirceu e Dilma
Autor: Nicola Pamplona
Fonte: O Estado de São Paulo, 15/04/2005, Nacional, p. A8

O professor Zieli Dutra Thomé Filho, que deixou ontem a presidência da Eletronuclear, atribuiu sua demissão a divergências com o Ministério de Minas e Energia (MME) a respeito do futuro do programa nuclear brasileiro. Thomé Filho foi substituído por Paulo Figueiredo, funcionário de carreira da estatal responsável pelas usinas nucleares do País, e afirmou que sua saída é fruto da "defesa intransigente não só de Angra 3, mas da intensificação do programa nuclear para fins pacíficos". A conclusão de Angra 3, usina remanescente do programa nuclear da década de 70, expôs um foco de atrito entre o Ministério de Minas e Energia - ao qual a Eletronuclear está subordinada - e uma ala do governo formada pela Casa Civil e pelo Ministério de Ciência e Tecnologia (MCT). Em reunião do Conselho Nacional de Política Energética (CNPE), anteontem, o MME votou contra a obra, orçada em US$ 2 bilhões, ao lado do Ministério do Meio Ambiente. O MCT já havia votado a favor, quando o ministro-chefe da Casa Civil, José Dirceu, pediu vistas do processo, que defendeu durante a reunião.

Apesar de subordinado ao MME, Thomé Filho fez parte de um grupo de trabalho do MCT que desenvolveu cenários para um futuro programa nuclear brasileiro, que prevê não só a conclusão de Angra 3, mas a construção de outras usinas nucleares no Brasil. O objetivo principal é viabilizar o enriquecimento de urânio em larga escala no País, fechando o ciclo de produção do combustível nuclear. "A Marinha tem uma das tecnologias mais eficientes para a produção do combustível e, se levarmos isso adiante, estaremos na ponta da ponta da ponta em termos tecnológicos", afirmou o especialista, único representante latino-americano de um grupo internacional que define normas de segurança em usinas atômicas.

CONSELHO DE SEGURANÇA

O desenvolvimento da tecnologia é defendida por parte do governo, que inclui Dirceu, como forma de obter assento no Conselho de Segurança da ONU. O MME, porém, desenhou um modelo energético baseado em hidreletricidade e se preocupa com o custo da energia nuclear nas contas de eletricidade. Thomé Filho ressaltou que nunca teve atritos com a ministra Dilma Rousseff (de Minas e Energia), mas disse que a divergência ideológica é a única explicação plausível para sua demissão. "Não me pareceu que a indicação do Paulo foi por questão política. Nem por razões técnicas, já que a empresa está bem", avaliou.

Paulo Figueiredo é funcionário da Eletronuclear desde 1979 e tem histórico no movimento sindical, tendo assumido diretorias nos sindicatos dos Engenheiros, dos Químicos e dos Urbanitários do Rio de Janeiro. O presidente demitido foi uma indicação do físico Luiz Pinguelli Rosa, quando este exercia a presidência da Eletrobrás. Fontes da empresa avaliam que sua demissão foi motivada também pelo perfil excessivamente acadêmico de Thomé Filho, já que Figueiredo também defende o programa nuclear.