Título: Dirceu diz que assentados não podem depender do Tesouro
Autor: Eduardo Kattah
Fonte: O Estado de São Paulo, 12/04/2005, Nacional, p. A11

MST invade usina e prédio no sul da Bahia Para ministro da Casa Civil, eles devem se organizar e criar cooperativas de crédito

O Movimento dos Trabalhadores Sem Terra (MST) invadiu ontem uma usina hidrelétrica e a sede de um órgão do governo federal em municípios do sul da Bahia. Na Usina do Funil, da Companhia Hidrelétrica do São Francisco (Chesf), em Ubatã, os sem-terra ameaçaram cortar o abastecimento de energia . No município de Itabela, o MST levou cem pessoas para ocupar a sede da Comissão Executiva do Plano da Lavoura Cacaueira (Ceplac). As duas ações fazem parte do abril vermelho. Eduardo Kattah BELO HORIZONTE O ministro-chefe da Casa Civil, José Dirceu, disse ontem que os sem-terra já assentados pelo programa de reforma agrária devem se organizar e criar cooperativas de crédito para romper com a dependência financeira do governo federal. "Não pode eternamente ficar dependendo do Tesouro Nacional. Não pode eternamente ficar dependendo da assistência social. É preciso que os assentamentos se emancipem", afirmou Dirceu, em palestra durante a solenidade de lançamento do Instituto Minas Cidadania (IMC), em Belo Horizonte. Ao comentar o desafio do governo de assentar 400 mil famílias até o final do mandato do presidente Luiz Inácio Lula da Silva, o chefe da Casa Civil destacou que o Brasil necessita cada vez mais de cooperativas de agroindústrias. Segundo ele, uma forma de modernizar a infra-estrutura da agricultura familiar e dos assentamentos.

"E precisa que cada vez mais os próprios assentamentos, as próprias cooperativas, ganhem autonomia de gestão e financeira, inclusive criando cooperativas de crédito", reiterou. Dirceu afirmou que a reforma agrária será feita no País "dentro dos recursos orçamentários", numa alusão aos cortes sofridos pelo Ministério do Desenvolvimento Agrário.

O ministro, entretanto, culpou mais uma vez a qualidade dos assentamentos feitos no governo passado para justificar o não cumprimento, até o momento, das metas estipuladas no Plano Nacional de Reforma Agrária.

"Nós recebemos o País com 450 mil assentamentos de reforma agrária sem assistência técnica, sem água, sem luz - mais de dois terços - só a metade com habitação construída. Sem crédito para compra de produtos", disse. "É por isso que o ritmo da reforma agrária é menor que a demanda e a reivindicação dos movimentos. Nós temos de andar e trocar de roupa".

Em 2005, a previsão do governo era assentar 115 mil famílias, mas diante dos cortes no orçamento da pasta, o ministro Miguel Rossetto já admitiu que dificilmente a meta será atingida.

Dirceu observou que um dos principais objetivos é qualificar os assentamentos. "O governo tem de fazer um esforço para que os novos assentamentos, que teriam de ser 115 mil por ano, não voltem para a situação que nós recebemos o Brasil. Assenta a família e ela continua na lona."