Título: China responsabiliza japoneses pelas manifestações anti-Japão
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Fonte: O Estado de São Paulo, 12/04/2005, Internacional, p. A14

O governo chinês culpou ontem o Japão pelas manifestações antinipônicas do fim de semana na China. "Pelo lado chinês não há nenhuma responsabilidade na atual situação nas relações sino-japonesas", manifestou ontem a chancelaria chinesa. No fim de semana, dezenas de milhares de pessoas em várias cidades chinesas manifestaram-se contra o que os chineses estão considerando uma diminuição da gravidade dos crimes de guerra do Japão na China durante a 2.ª Guerra, assim como contra um papel mais pró-ativo do Japão na esfera mundial. As manifestações ocorreram após Tóquio aprovar na semana passada a edição revisada de um livro de história que, segundo os críticos, encobre a brutal ocupação japonesa de algumas nações asiáticas no século 20.

Do outro lado, o primeiro-ministro do Japão, Junichiro Koizumi, condenou ontem os violentos protestos. Segundo a agência Kyodo, ele exigiu que a China faça tudo que esteja a seu alcance para evitar a ocorrência de manifestações semelhantes, assim como para garantir a segurança dos japoneses na China. O Japão também pediu ontem o diálogo com Pequim para impedir a degradação das relações com seu principal parceiro comercial.

No sábado, cerca de mil pessoas apedrejaram a Embaixada do Japão em Pequim, quebrando vidraças. Dois estudantes japoneses foram golpeados com canecas de cerveja e cinzeiros em um restaurante de Xangai. No domingo, cerca de 10 mil pessoas se reuniram diante de um supermercado de propriedade de japoneses na cidade de Shenzen, sul da China, pregando boicote a produtos japoneses.

"Estamos preocupados com os acontecimentos", disse ontem Hiroshi Okuda, chefe de gabinete do governo japonês. "Somos vizinhos próximos e nossas relações diplomáticas são importantes. Não devemos permitir que os mal-entendidos cresçam."

O conservador jornal japonês Yomiuri acusou ontem a polícia chinesa de não ter feito nada para impedir as manifestações. Os japoneses estão convencidos de que o regime comunista de Pequim esteja utilizando o nacionalismo chinês e alimentando a xenofobia para substituir a ideologia marxista-leninista em desuso.

Em um país onde quase todos os protestos, exceto os contra EUA e Japão, são proibidos, os analistas perguntam quem organizou as manifestações do fim de semana em três cidades chinesas, destacando que não só universitários, mas também operários participaram delas. O governo chinês tem usado durante muito tempo o nacionalismo para manter o apoio interno e o Japão, que ocupou a China entre 1931 e 1945, é um ótimo bode expiatório.

Os protestos ocorreram justamente quando o Japão tenta obter uma cadeira permanente no Conselho de Segurança da ONU (que a China já ocupa), a que muitos se opõem por causa do passado belicista do país.