Título: O nomeado para a ONU sob pressão
Autor: Paulo Sotero
Fonte: O Estado de São Paulo, 12/04/2005, Internacional, p. A16

John R. Bolton, diplomata notório por suas cáusticas críticas às Nações Unidas, que o presidente George W. Bush quer ver como embaixador dos EUA na organização, disse ontem à Comissão de Relações Exteriores do Senado que vê a ONU "como um importante componente" da diplomacia americana. Sob intensa pressão dos oito senadores da comissão, que se opõem à sua nomeação, ele não retirou, porém, nenhum dos duríssimos ataques que fez no ano passado à organização. No primeiro dos três dias de sua sabatina de confirmação, Bolton até reiterou os ataques, afirmando que a ONU "saiu dos trilhos" e "mais do que nunca precisa da liderança americana" para tornar-se eficaz. "Os EUA precisam liderar o esforço para melhorar a ONU, particularmente na área da responsabilidade por suas ações", disse, referindo-se indiretamente ao escândalo no programa Petróleo por Alimentos, que a organização administrou no Iraque e envolveu um filho do secretário-geral Kofi Annan, Kojo.

Bolton, que tem uma granada como objeto de decoração em sua mesa no Departamento de Estado, tornou-se conhecido no Brasil em 2002 por ter articulado a manobra que levou à destituição do diplomata brasileiro José Maurício Bustani, atual embaixador em Londres, da direção da Organização para a Proibição de Armas Químicas, uma agência da ONU.

O senador democrata Joseph Biden manifestou "grave preocupação" com a nomeação. Ele disse duvidar que o nomeado tenha "o temperamento diplomático" necessário e manifestou-se "surpreso" com o fato de Bolton ter aceitado a nomeação, "dadas as muitas coisas negativas que disse sobre a ONU, as organizações e as leis internacionais". Sua colega Barbara Boxer cobrou uma explicação para uma declaração que Bolton fez em 1994, quando afirmou que se tirassem dez andares da sede da ONU, em Nova York, não faria diferença. O diplomata respondeu que sua intenção era sublinhar o desperdício na organização.

O senador Christopher Dodd reclamou que a sabatina de confirmação tenha se instalado sem estarem esclarecidos dois casos em que, alegadamente, Bolton mandou demitir dois analistas de inteligência do Departamento de Estado "porque foram suaves com Cuba".

A aposta dos democratas é atrair o voto do republicano moderado Lincoln Chaffee e provocar um empate em 9 votos na comissão, o que bloquearia a nomeação. Ontem, porém, Chaffee parecia inclinado a apoiar Bolton.

REFORMA

Na sede da ONU, um grupo de 40 países, incluindo Itália, México e Paquistão, pediu ontem que a futura reforma do Conselho de Segurança seja por consenso e não crie "novos centros de poder". O grupo é contra a ampliação do número de membros permanentes do CS, como querem o Brasil, Alemanha, Índia e Japão. "Atualmente não há amplo consenso" para a ampliação, disse o chanceler italiano, Gianfranco Fini.