Título: João Paulo propõe a Mercadante trégua em São Paulo
Autor: Vera Rosa
Fonte: O Estado de São Paulo, 15/04/2005, Nacional, p. A10

Três dias depois de ouvir o chefe da Casa Civil, José Dirceu, afirmar para uma platéia de petistas, a portas fechadas, que a disputa fratricida entre três pré-candidatos do PT ao governo de São Paulo é uma das maiores preocupações do Planalto, o ex-presidente da Câmara, João Paulo Cunha (PT-SP), estendeu a bandeira branca. Na tarde de quarta-feira, o deputado telefonou para o líder do governo no Senado, Aloizio Mercadante (PT-SP), e tentou propor uma trégua. Não teve tempo. Mal começou a falar e foi interrompido. "Tudo o que está acontecendo aqui, João Paulo, é porque a Câmara ficou três meses sem votar nada por causa do projeto de reeleição. Ficou tudo paralisado", esbravejou Mercadante pelo celular. Era uma referência à proposta de emenda constitucional, sepultada depois de muito vaivém, que permitia um segundo mandato para João Paulo, no comando da Câmara, e para José Sarney (PMDB-AP), na presidência do Senado.

Percebendo que Mercadante estava ocupado no plenário - porque, naquele momento, o presidente do Senado, Renan Calheiros (PMDB-AL), falava cobras e lagartos contra a avalanche de medidas provisórias enviadas pelo Planalto -, João Paulo deixou o armistício para outro dia. O líder do governo, então, caiu em si: "Puxa vida, o João Paulo me ligou numa boa e eu nem podia falar direito... Virei aqui um carro-pipa, apagando todos os incêndios."

Na manhã de ontem, os dois petistas - que querem concorrer à sucessão do governador Geraldo Alckmin (PSDB-SP) - voltaram a se falar por telefone. Sem Renan para atrapalhar a trégua, conseguiram marcar um tête-à-tête para a próxima semana.

"Vou conversar com o Mercadante e com a Marta porque o que importa é a gente ter harmonia", afirmou João Paulo, citando a ex-prefeita Marta Suplicy (PT-SP), que também postula a candidatura ao governo paulista. "Nossa relação precisa ser menos de disputa e mais de unidade."

ABAIXO O FOGO

Para o ex-presidente da Câmara, a reunião do campo majoritário do PT, no Rio, - onde Dirceu advertiu os petistas moderados que o presidente Lula pode não disputar a reeleição se não contar com um amplo arco de alianças - foi um marco na história do partido.

"O PT está oferecendo ao governo um projeto de tranqüilidade", definiu João Paulo. "É quase um programa, que sustenta a política do governo e, ao mesmo tempo, sinaliza o que deve ser feito para 2006, com política de alianças, definição de roteiro para candidatos e, acima de tudo, com o objetivo de reeleger o presidente Lula".

Mais calmo, João Paulo também procurou o presidente nacional do PT, José Genoino. Na linha "abaixo o fogo amigo", concordou até mesmo em não dar mais estocadas no ministro da Previdência, Romero Jucá (PMDB-RR), envolvido em inúmeras denúncias de irregularidades. As estocadas do deputado irritaram Renan, que foi se queixar com Mercadante.

Na outra ponta, Marta Suplicy afirmou estar disposta a viajar pelo País, com o intuito de fazer campanha para um segundo mandato de Lula, além, é claro, da sua própria. No fim de semana, após a reunião da ala light do PT, a ex-prefeita também viu com bons olhos a proposta de João Paulo para um pacto de unidade em São Paulo.

"Somos três quadros políticos conhecidos e podemos chegar a um consenso", disse Marta. Até agora, porém, nem ela nem João Paulo nem Mercadante admitem a possibilidade de desistir da prévia para indicação do candidato do PT. Traduzindo: ninguém sabe se o tão sonhado acordo sairá do papel. Quem viver verá.