Título: Cardeais querem processo de canonização em outubro
Autor: Jamil Chade e Expedito Filho
Fonte: O Estado de São Paulo, 12/04/2005, Vida&, p. A18

O processo de canonização do papa João Paulo II poderia já ser iniciado em outubro. Um grupo de cardeais informou ao jornal italiano Corriere della Sera que está preparando uma petição para que o Vaticano considere o assunto. Nos últimos dias, tem crescido a idéia de dar tal título ao papa morto na semana passada e, durante seu enterro, na sexta-feira, os fiéis não escondiam o desejo de transformar o papa em santo. O secretário da Congregação da Causa dos Santos, o arcebispo Edward Nowak, chegou a dizer ao jornal italiano que tal possibilidade poderia ser debatida a partir de outubro, quando os bispos se reúnem.

Muitos cardeais, no entanto, preferem deixar o conclave terminar para que esse tema seja levantado. O conclave se reúne a partir de segunda-feira para definir quem será o próximo papa. Oficialmente, o Vaticano afirma que apenas ele terá o poder de tomar tais decisões.

Apesar de muitos estimarem que o processo de canonização leve pelo menos cinco anos para ser concretizado, os defensores da idéia argumentam que o próprio João Paulo II já acelerou os procedimentos para que madre Teresa de Calcutá fosse canonizada.

Até o século 10.º, a aclamação popular poderia ser suficiente para canonizar uma pessoa, principalmente no caso de papas. Mas, hoje, o Vaticano insiste que o candidato a santo precisa cumprir uma série de requisitos e mostrar pelo menos dois milagres. Nos últimos dias, os próprios assessores de João Paulo II têm tomado para si o trabalho de começar a divulgar os supostos milagres do polonês, entre eles a cura de um paciente de câncer nos Estados Unidos. Faltariam ainda os milagres que teriam ocorrido após a morte do papa. Na avaliação do Vaticano, isso poderia dar um forte apoio ao processo.

A primeira fase desse processo, porém, é a opinião pública, o que no caso de João Paulo II já está claro. "Não é a Igreja que canoniza, nem ontem nem hoje, mas o povo que reconhece e confirma a santidade de uma pessoa", disse Nowak, de origem polonesa como João Paulo.

Mas há também aqueles que pedem cautela no processo, alegando que o clamor popular é sempre mais intenso na hora da morte de um papa. A idéia de esperar alguns anos é defendida pelos mais conservadores.