Título: Quanto dinheiro há nos cofres do Vaticano?
Autor: Jamil Chade e Expedito Filho
Fonte: O Estado de São Paulo, 12/04/2005, Vida&, p. A18

Abundância e luxo. É a sensação que transmite o Vaticano em suas missas e cerimônias. A Basílica de São Pedro e outras igrejas em Roma parecem transbordar ouro, as riquezas estão à mostra em seus museus. As finanças da Santa Sé são tão obscuras que ninguém além dos muros do Vaticano sabe realmente de quanto dinheiro dispõe um papa hoje em dia. Se é feita uma pergunta sobre o saldo de um cardeal, impera o silêncio. Todos os anos, o pequeno Estado publica seu balanço. Mas o que o prefeito para assuntos econômicos do Vaticano, Sergio Sebastani, apresenta publicamente tem pouco a ver com um informe transparente. E surpreendentemente aparenta escassez. Em 2003, os gastos foram de 213 milhões, diante da entrada de 203,6 milhões. Sebastani explicou com uma parábola bíblica: "Depois de sete anos de abundância, o Vaticano tem sete anos magros. Até 2001, o centro da cristandade ganhou mais de 30 milhões.

Os altos dignatários aceitam o buraco financeiro com um sorriso. E as perdas do Vaticano são cobertas sem problemas por seu patrimônio. Mas os experts divergem sobre quão alto é esse patrimônio. Se situa em alguma cifra entre 1 bilhão e 12 bilhões. Incluem-se ações, reservas de ouro, bens imobiliários e dinheiro. E os últimos não são fáceis de avaliar.

O cofre da Santa Sé alimenta-se sobretudo de doações e subsídios, cobranças de aluguel, arrendamentos, venda de selos e moedas, assim como transações financeiras. A soma de dinheiro dada por católicos de todo o mundo voluntariamente ultrapassou US$ 55 milhões, em 2003, e foi destinado a apoiar o trabalho de caridade do papa. Há quem questione como o donativo consiga há anos tapar o déficit das contas.

Mais sombrios são os negócios do Istituto per le Opere di Religione (IOR). Criado em 1942 pelo papa Pio XII, o instituto é considerado o banco do Vaticano, porém não apresenta balanços nem informes das contas. O dono do banco é o papa, que tem direito de reivindicar os lucros. Mais de uma vez, negócios financeiros não muito transparentes do IOR saíram dos titulares. Se falou em lavagem de dinheiro, fraude e até máfia.

Muitos italianos lembram-se de Roberto Calvi, diretor do Banco Ambrosiano de Milão e conhecido como o "banqueiro de Deus" por suas relações estreitas com a Santa Sé. Depois da quebra fraudulenta do banco, Calvi fugiu da Itália e foi achado morto em 17 de junho de 1982, pendurado numa ponte de Londres. Pouco antes de sua morte havia dito: "Se me acontecer algo, o papa deve renunciar".

O cardeal norte-americano Paul Casimir Marcinkus, então chefe do IOR, teve de renunciar e até hoje os bastidores da morte de Calvi continuam sem explicação. Outro rumor mantido por décadas diz que o papa João Paulo I foi assassinado, após 33 dias eleito, porque quis investigar os bastidores do banco do Vaticano.