Título: Agricultura inteligente evita desgaste ambiental, diz ONG
Autor: Cristina Amorim
Fonte: O Estado de São Paulo, 12/04/2005, Vida&, p. A19

Estudo feito em Goiás demonstra que lucratividade pode crescer com prática certa Técnicos ligados a uma organização não-governamental, The Nature Conservancy (TNC), querem convencer hoje produtores de soja do cerrado que é possível aumentar o lucro no campo quanto é utilizada uma abordagem menos perigosa ao ambiente - e mais inteligente. Em quatro anos, duas fazendas no entorno do Parque Nacional das Emas, em Goiás, apontaram um crescimento de 20% na lucratividade - medida em dólares - ao adotarem um pacote de ações recomendado pela ONG. O que os técnicos propõem não é nada muito elaborado, tampouco completamente desconhecido pelo setor agrícola. Entre as práticas recomendadas, que serão apresentadas em um seminário realizado na cidade de Chapadão do Céu, estão a rotatividade de culturas, o manejo integrado de pragas e a integração da lavoura com a pecuária. O que faz a diferença, diz o engenheiro agrônomo Ricardo Russo, que participou do experimento, é a integração das práticas corretas ao dia-a-dia do agricultor. "A grande sacada é diversificar o sistema de produção, que tende à simplificação", explica.

No projeto, os técnicos não utilizaram adubos orgânicos, por exemplo, que seriam mais "verdes" do que os químicos usados hoje, nem o combate natural às pragas, uma vez que "a região não tem o hábito", diz Russo. A ONG comemora a redução do uso de defensivos de 1.500 litros para 400 litros por safra.

De acordo com o engenheiro agrônomo, o maior desafio do projeto começa agora: convencer os demais produtores rurais que é possível replicar o resultado obtido nas duas fazendas-teste para mitigar os impactos negativos da agricultura sem perder dinheiro.

O parque nacional é uma ilha verde de 1.320 km2 cercada por soja e girassol por todos os lados. Por sua diversidade biológica, foi tombado como Patrimônio da Humanidade pela Unesco, mas o título não protege a área da degradação ambiental provocada pelo uso inadequado do solo. O entorno, faixa de 10 km que segundo a legislação ambiental deve ser mantida intocada, sente a pressão da agricultura e da pecuária. Vales de até 20 metros de altura formados pela erosão podem ser encontrados na região e afetam, além do parque e das espécies que vivem lá, as nascentes do Rio Araguaia, que fornece água para a população de Goiás e Tocantins.