Título: Chile tenta desvincular seu salmão do surto de verminose
Autor: Lígia Formenti, Ricardo Westin, Colaboraram: Carol
Fonte: O Estado de São Paulo, 15/04/2005, Vida &, p. A16

Um dia após o governo brasileiro cogitar - e descartar - a possibilidade de proibir a importação de salmão chileno fresco, o Chile partiu para um esforço de tentar desvincular o seu pescado do surto de difilobotríase (um tipo de infecção intestinal) que já atingiu pelo menos 47 pessoas só nos Estados do Rio e de São Paulo. O embaixador do Chile no Brasil, Oswaldo Puccio, teve uma reunião ontem em Brasília com o ministro da Pesca, José Fritsch. Argumentou que nenhum caso da doença foi registrado no Chile nem nos EUA - país que importa dez vezes mais pescado chileno que o Brasil. O embaixador ainda convidou técnicos brasileiros para visitar a produção de salmão chileno. O convite deve ser aceito.

Anteontem, Fritsch havia anunciado que iria pedir ao Ministério da Agricultura a proibição da importação de salmão do Chile. A medida valeria até que fosse comprovado que o produto não tem relação com o surto. A idéia acabou logo descartada por ferir acordos internacionais.

Os empresários chilenos, que exportam para mais de 60 países, também reagiram. A Associação da Indústria do Salmão do Chile diz que submeteu seu pescado a mais de cem análises nos últimos dias e que nada foi detectado.

Segundo o presidente da associação, Carlos Vial Izquierdo, o salmão é criado em cativeiro e recebe "uma alimentação especialmente formulada e livre de contaminação".

"Não é certo relacionar os casos de difilobotríase registrados no Brasil ao salmão do Chile", disse Izquierdo. "Esperamos que a situação seja prontamente esclarecida pelas autoridades."

O transmissor da difilobotríase é o parasita Diphyllobothrium spp, presente em peixes crus e mal cozidos. Supõe-se que o salmão do Chile seja o responsável pela contaminação, mas não se descarta que peixes brasileiros estejam contaminados.

Para eliminar o parasita, a Agência Nacional de Vigilância Sanitária recomenda que o peixe fique congelado a -20º C por sete dias ou a -35º C por 15 horas. Os sintomas da doença são dor abdominal, diarréia, flatulência, vômito e até anemia.

A cidade de São Paulo registrou 28 casos de contaminação entre março do ano passado e março deste ano. Em Ribeirão Preto (SP), houve um caso.

Na capital paulista, a Coordenadoria de Vigilância em Saúde já enviou para análise amostras de salmão e de outros peixes suspeitos. Os resultados devem sair em duas semanas. Grande parte dos restaurantes paulistanos já não serve mais salmão. Os que ainda o fazem oferecem o prato apenas grelhado, e não cru.

No Estado do Rio, pelo menos 18 pessoas foram contaminadas, 13 das quais moram na capital.

Em Belo Horizonte, a Vigilância Sanitária está investigando seis casos para saber se as vítimas foram contaminadas na cidade.