Título: Obra da fábrica de vacina do Instituto Butantã sofre atraso
Autor: Adriana Dias Lopes
Fonte: O Estado de São Paulo, 15/04/2005, Vida &, p. A16

A construção da fábrica de vacinas antigripe do Instituto Butantã, em São Paulo, está atrasada. A denúncia é do diretor-presidente da Fundação Butantã, Isaías Raw. "Em dois meses, a obra foi embargada duas vezes", diz Raw. "Em termos jurídicos, isso pode estar certíssimo. Mas em termos de saúde pública é uma catástrofe." A fábrica de vacinas antigripe, a primeira da América Latina, começou a ser erguida em 10 de novembro. A data de finalização, anunciada pelo governador Geraldo Alckmin e pelo secretário de Saúde do Estado, Barradas Barata, estava marcada para o primeiro semestre do ano que vem. "O atraso de dois meses da construção empurra todo o resto. Agora, dificilmente a fabricação de vacinas será antes do fim de 2007", calcula Raw.

De acordo com o engenheiro João Batista Rizek, assessor de obras da Secretaria de Estado da Saúde, a obra de fato ficou parada por dois meses, mas o prazo de entrega não será prejudicado. "Ela sofreu um problema de continuidade, mas o tempo é recuperável", afirma.

O atraso (ou o problema de continuidade) envolveu dois consórcios de empreiteiras. "Em novembro, o consórcio CHM/Augusto Veloso furou o processo de licitação. Eles concorreram e ganharam a licitação com uma liminar. O contrato deles com a secretaria foi suspenso em janeiro graças a uma decisão judicial motivada por outro consórcio, o da Squadro/Paulo Octávio", explica Rizek. "O primeiro consórcio não tinha capacitação técnica para participar de um programa público." Em março, o processo foi julgado. "Já tem gente lá desde a semana passada. Na segunda-feira, retomaremos com força total", promete. "Garante que o prazo da entrega será cumprido."

A fábrica de vacinas do Butantã vai ter 9.876,77 m2. O prédio tem sofisticações bem particulares, como ar filtrado, temperatura controlada e áreas com capacidade para condensar vapor. Até agora, as empreiteiras fizeram a estrutura do prédio, como canteiro e tapumes. "Na verdade, o tempo que a obra ficou suspensa coincidiu com o período de chuvas, o que ia acabar mesmo atrapalhando o trabalho", explica Rizek.

20 MILHÕES DE DOSES

A capacidade de produção da fábrica ficará em torno de 20 milhões de doses por ano. "A quantidade é suficiente para atender à demanda nacional e até exportar", conta Raw. "Isso ganha importância pelo fato de que todos os países que produzem a vacina antigripe estão no Hemisfério Norte. E você acha que, no caso de alguma epidemia, alguém iria querer exportar para a gente?"

Hoje, o Instituto Butantã recebe da Sanofi-Pasteur, na França, a matéria-prima para a produção dos 17 milhões de doses que o governo federal usa na vacinação de quem tem mais de 60 anos. No instituto são feitos o envasamento e o controle de qualidade do produto. A previsão é de que a partir de 2007 tudo seja feito no Brasil.

O investimento do governo estadual na fábrica brasileira é de R$ 19 milhões. O Ministério da Saúde investiu R$ 30 milhões em equipamentos.

CAMPANHA

A campanha deste ano de vacinação começa no próximo dia 25. O número de doses será suficientes para imunizar cerca de 3,5 milhões de idosos do Estado. A meta é atingir 70%, ou seja, 2,4 milhões de pessoas com 60 anos ou mais. A vacinação ocorrerá de 25 a 30 de abril (incluindo o sábado) e 2 a 6 de maio.