Título: Na lavoura de algodão, protestos
Autor: Chico Siqueira
Fonte: O Estado de São Paulo, 12/04/2005, Economia & Negócios, p. B1

Os prejuízos com a lavoura de algodão estão levando agricultores paulistas a queimar a produção para protestar contra os baixos preços e a suspender a colheita para evitar prejuízos ainda maiores. Sábado, cerca de 100 produtores bloquearam com tratores e caminhões a Rodovia Assis Chateaubriand (SP-225), no trevo de Narandiba, no oeste do Estado. Os agricultores de cinco municípios da região (Narandiba, Sandovalina, Estrela do Norte, Anhumas e Pirapozinho) queimaram fardos de algodão no meio da pista em protesto contra a situação.

Eles reclamam do baixo preço do algodão no mercado e culpam o governo pela falta de uma política de preços para os produtos agrícolas. Segundo eles, o preço da arroba, que estava a R$ 24 no ano passado, foi aberto a R$ 13 este ano, o que não chega perto de cobrir os custos. "Já que o algodão não está valendo nada, vamos queimá-lo", disseram os agricultores.

Segundo Aparecido Bezerra, um dos organizadores do movimento, o bloqueio serviu para chamar a atenção das autoridades para a situação vivida pelos cotonicultores, que dizem estar sofrendo prejuízo de cerca de R$ 1,5 mil por alqueire plantado. Ele disse que os produtores estão "nas mãos da indústria", e que o governo tem de garantir o preço mínimo para o plantio e colheita.

A situação de revolta é a mesma em todo o interior, onde muitos cotonicultores afirmam que terão de vender bens para pagar os insumos adquiridos para o plantio, se o preço continuar em baixa no mercado. Os custos de produção aumentaram e houve quebra de safra por conta das chuvas de janeiro e forte estiagem em fevereiro.

No noroeste do Estado, parte dos agricultores decidiu suspender a colheita para evitar mais prejuízos. Eles afirmam que o custo da colheita sai mais alto do que o preço do produto no mercado depois de colhido. "É melhor deixar estragar no pé a ter de arcar com mais prejuízos", disse o agricultor Fernando Nogueira, de Jales.

Nas regiões agrícolas de Fernandópolis, Jales e General Salgado, as principais produtoras do noroeste, os engenheiros agrônomos estimam que a quebra de safra ficou entre 30% e 50% dependendo do município.

De acordo com a Coordenadoria de Assistência Integral (Cati), as perdas foram de 50% na região de Jales, onde foram cultivados 6 mil hectares, e de 30% nos municípios das regiões de Fernandópolis e de General Salgado.