Título: Mau humor derruba a Bovespa
Autor: Renée Pereira, Colaborou: Mario Rocha
Fonte: O Estado de São Paulo, 15/04/2005, Economia, p. B1

A Bolsa de Valores de São Paulo (Bovespa) viveu ontem um dia de intensa turbulência, influenciada por más notícias dos cenários doméstico e internacional. O mercado acionário despencou 4,15%, para 24.984 pontos - menor nível desde 3 de fevereiro. O estresse ampliou ainda mais a desvalorização da Bolsa paulista no mês, para 6,11%. A queda soma 11,98% no período de 12 meses e de 4,63% no ano. O mau humor de ontem foi desencadeado pelo temor de desaceleração na economia global, afirmam analistas. Segundo o superintendente de fundos derivativos do BankBoston, Izak Benaderet, além de indicadores mais fracos de vários países, documentos de instituições no exterior, como o Fundo Monetário Internacional (FMI), apontam para um crescimento econômico menor que o esperado para este ano.

A notícia derrubou outras bolsas pelo mundo. Em Nova York, a Nasdaq caiu 1,4% e o índice Dow Jones, 1,2%. O desempenho também refletiu a antecipação do mercado em relação aos resultados de grandes corporações no terceiro trimestre, que podem vir menores que os projetados. A Bolsa do México recuou 1,54% e a de Buenos Aires, 1,39%. "Está havendo uma reavaliação do aquecimento global", completou o economista-chefe da Gap Asset Management, Alexandre Maia.

A perspectiva negativa acertou em cheio as ações do setor de siderurgia e metalurgia, que já sofrem os efeitos de estoques elevados nos Estados Unidos e na Europa. Com a oferta maior e a expectativa de crescimento menor, o preço das commodities vem recuando sensivelmente em alguns países, assim como o das ações.

Nesse cenário, diz Maia, o mercado tende a entrar numa tendência, mesmo temporária, de aversão ao risco. Isso significa investidores se desfazendo de papéis para embolsar os lucros, um movimento já captado pela Bovespa entre os investidores estrangeiros.

De 1.º de março a 11 de abril, o saldo de recursos externos na Bolsa paulista havia recuado cerca R$ 2 bilhões - também influenciado pela perspectiva de aumento dos juros americanos, o que tornaria os títulos dos Estados Unidos mais atraentes.

Os outros fatores que pressionaram o mercado financeiro vieram do cenário doméstico, afirma Maia. Um deles foi a forte desaceleração verificada nas vendas do comércio no varejo, segundo dados do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE).

Em fevereiro, o crescimento foi de 1,32% em relação a igual período de 2004, resultado abaixo das expectativas, que iam de aumento de 4,1% a 9,12%. Para completar o quadro, o crescimento do número de emprego em março, de 0,45%, foi menor que o registrado em fevereiro. O que para os representantes da indústria podem ser um sinal de que o setor está perdendo vigor.

Por causa de todas essas notícias, o movimento financeiro na Bolsa paulista aumentou e somou R$ 1,884 bilhão, refletindo um movimento de venda de ações. Os papéis mais afetados foram os de siderurgia e mineração. As ações das companhias desses setores comandaram o tombo da bolsa. As maiores quedas foram verificadas na Companhia Siderúrgica Tubarão (PN), com 8,59%, e Acesita (PN), 8,24%. As ações da Vale fecharam em baixa de 4,78% (ON) e 5,24% (PNA).