Título: Emprego perde fôlego na indústria
Autor: Marcelo Rehder
Fonte: O Estado de São Paulo, 15/04/2005, Economia, p. B3

As indústrias paulistas abriram 9.127 postos de trabalho em março, o que representou crescimento de 0,45% no nível de emprego, em relação ao mês anterior. Com isso, o indicador fechou o primeiro trimestre com alta de 1,5%, equivalente à criação de 30.488 vagas. Apesar de positivos, a Federação das Indústrias dos Estado de São Paulo (Fiesp) vê nesses números sinais de que o setor está perdendo o vigor. O resultado de março é menor do que o crescimento de 0,47% registrado em fevereiro, que representou a criação de 15 mil vagas. Apenas 17 dos 47 sindicatos filiados à entidade contrataram no mês passado - o pior desempenho desde setembro de 2004, quando a metodologia da pesquisa foi reformulada.

"Vemos que o processo está cansando", diz Paulo Francini, diretor do Departamento de Pesquisas e Estudos Econômicos da Fiesp. Ele referia-se à desaceleração do ritmo da atividade industrial registrada nos últimos meses, atribuída aos efeitos da elevação da taxa de juros desde setembro.

Bem-humorado, Francini fez uma comparação com o corredor brasileiro Vanderlei Cordeiro de Lima, prejudicado nas Olimpíadas de Atenas, na Grécia, por um manifestante irlandês, que o agarrou nos quilômetros finais da maratona, quando liderava a prova. "O nosso atleta das indústrias está perdendo o fôlego, sempre com medo de que o irlandês louco do Banco Central o agarre e ele pare de vez".

ESPETÁCULO MUNDIAL

Nesse cenário, para o diretor da Fiesp não seria surpresa se o nível de emprego tendesse a zero nos meses de abril e maio. Na sua avaliação, o conservadorismo do BC impede o Brasil de aproveitar a onda de crescimento da economia mundial, que acumula uma taxa de 20% de expansão nos últimos quatro anos.

"O País está apequenando suas expectativas diante de um mundo que há 50 anos não via esse espetáculo de crescimento". Enquanto Rússia, Índia e China estão crescendo nesse período a uma taxa média de 33%, e o grupo de países emergentes a uma média de 28%, o Brasil cresce apenas 13%. "Nosso desencanto é pela riqueza e pelos empregos que não estão sendo gerados".

Francini observa que um dos motivos pelo qual nível de emprego está se mantendo positivo é a expansão do crédito, apesar da política de juros altos mantida pelo governo. "O crédito alimenta as vendas do varejo, cujas encomendas mantêm a atividade e os empregos aquecidos na indústria".

No mês passado, 20 dos 47 setores pesquisados fecharam postos de trabalho. As demissões foram mais intensas nas indústrias de calçados de Franca, cujo nível de emprego caiu 2,20%. Segundo Francini, esse movimento reflete os efeitos negativos da desvalorização do dólar frente ao real , no resultado das pequenas e médias empresas exportadoras do setor. Já nas fábricas de produtos de cacau e balas e massas alimentícias e biscoitos, o emprego teve quedas de 1,76% e 1,63%, respectivamente. A queda é sazonal, por causa da Páscoa. Nessa época do ano, tradicionalmente as empresas dispensam trabalhadores contratados temporariamente para reforçar a produção.

Entre os setores que mais contrataram estão o de curtimento de couros e peles (3,59%), refrigeração, aquecimento e tratamento de ar (1,93%) e doces e conservas alimentícias (1,85%). O quadro de pessoal foi mantido estável em dez dos setores pesquisados.