Título: Rato defende política de juro do País
Autor: Rolf Kuntz
Fonte: O Estado de São Paulo, 15/04/2005, Economia, p. B5

O diretor-gerente do Fundo Monetário Internacional (FMI), o espanhol Rodrigo de Rato, defendeu ontem a política de juros e a "forte política fiscal" em vigor no Brasil e disse que o País precisa aumentar seu potencial de crescimento e reduzir suas vulnerabilidades. O Banco Central (BC), segundo ele, agiu corretamente ao apertar sua política para conter as pressões inflacionárias na maior parte do ano passado e no início deste. A credibilidade da política monetária, afirmou, tem um papel muito importante no Brasil, neste momento.

Aumentar o potencial do crescimento significa investir na ampliação da capacidade produtiva, para que a produção possa acompanhar, com alguma folga, a demanda crescente de bens e serviços destinados ao consumo, à exportação e ao próprio processo produtivo.

Ao mencionar esse ponto, De Rato repetiu, sem detalhar o assunto, uma preocupação exibida por muitos economistas no Brasil. Segundo esses economistas, o País não está preparado para sustentar por vários anos um crescimento parecido com o do ano passado, de 5,2%.

No passado, a ocupação da capacidade superou 80% em vários setores da indústria. Para diversos analistas, isso foi um sinal de alerta. O Comitê de Política Monetária do BC mencionou mais de uma vez a rápida ocupação da capacidade industrial como um fator de preocupação.

As opiniões sobre o potencial de crescimento do Brasil variam. Segundo uma opinião freqüente, está na faixa de 3,5% a 4%. Algumas vozes respeitadas, no entanto, sustentam que a própria expansão da economia produzirá os estímulos necessários ao investimento, se os empresários tiverem razoável segurança em relação ao futuro.

A pauta brasileira de reformas continua "extremamente importante", disse De Rato, para tornar o setor financeiro mais competitivo, dar maior flexibilidade ao orçamento público e aumentar a capacidade de criação de empregos com mudanças trabalhistas.

TENDÊNCIA

O FMI estima que a economia brasileira crescerá 3,7% neste ano, e que a "pequena redução" em relação ao desempenho de 2004 lembrando que o crescimento econômico mundial também deverá ser menor e que a região do Brasil acompanhará provavelmente essa tendência.

Também a Europa, disse De Rato, precisa aumentar seu potencial de crescimento, hoje "certamente abaixo de 2%". Para isso, afirmou, será preciso cumprir uma grande pauta de reformas, com destaque para mudanças no campo trabalhista. Há muitos anos, lembrou, o FMI aconselha os governos europeus a tornarem as leis trabalhistas mais flexíveis, para que mais pessoas possam encontrar emprego.

É com reformas, e não com o relaxamento do pacto de estabilidade, que os europeus resolverão seus problemas de crescimento, afirmou o diretor-gerente do Fundo.