Título: Wolfensohn pede urgência na ajuda aos países pobres
Autor:
Fonte: O Estado de São Paulo, 15/04/2005, Economia, p. B5

Presidente do Banco Mundial diz que nunca sentiu maior seriedade no debate sobre a pobreza

Chegou a hora de encerrar as discussões e de passar à ação no combate à pobreza, diz o presidente do Banco Mundial (Bird), James Wolfensohn. Será possível conseguir mais US$ 50 bilhões ou US$ 60 bilhões e dobrar o dinheiro disponível se os governos apenas aumentarem de 0,25% para 0,50% do Produto Interno Bruto (PIB) as contribuições oficiais ao desenvolvimento. "Esse é um número em torno do qual um consenso vem sendo formado." A próxima etapa seria elevar as doações a 0,70%, meta definida há uns 30 anos e jamais alcançada. As decisões sobre como cuidar da pobreza virão adiante, segundo Wolfensohn, mas neste fim de semana deverão surgir alguns sinais do que será feito. "O que há de muito positivo em relação a este encontro é que eu nunca havia sentido uma seriedade maior quanto à disposição de agir." Uma novidade importante, segundo ele, é que desta vez há uma decisão de chefes de Estado e não um anúncio de ministros. A decisão é especialmente urgente, segundo os presidentes do Bird e do Fundo Monetário, pois a maior parte dos países pobres será incapaz de alcançar até 2015 as metas do milênio de redução da pobreza, definidas na ONU.

Wolfensohn ainda acompanhará esse trabalho como chefe do Banco Mundial por pouco mais de um mês. Em junho, ele estará envolvido numa nova tarefa, como enviado especial para coordenar a cooperação entre o governo de Israel e a Autoridade Palestina durante a retirada israelense da Faixa de Gaza. O atual presidente manifestou confiança nas intenções e na capacidade de seu substituto, Paul Wolfowitz. "Não creio que ele esteja vindo com uma agenda unilateral", disse Wolfensohn. "Discuti horas com ele e não creio que estivesse tentando enganar-me. Ele seria louco se aceitasse este trabalho sem os melhores motivos e eu creio que ele tem esses motivos e a capacidade de aprender."

Wolfensohn deixa o Bird com dez anos de experiência no comando da assistência ao desenvolvimento e, de modo especial, aos países mais pobres. Nenhuma organização internacional juntou tanto conhecimento nessa atividade, mas os recursos são insuficientes para um trabalho mais amplo. Uma assistência mais efetiva dependerá de mais dinheiro, e é esse um dos temas centrais das reuniões de primavera do Banco Mundial e do Fundo Monetário, neste fim de semana,

O aumento das contribuições é apenas uma das fórmulas propostas para financiar o combate à pobreza. Outras soluções seriam a criação de impostos internacionais, saída recusada pelos EUA, e a emissão de títulos públicos, com longo prazo de resgate. Os objetivos incluem tanto a ampliação do financiamento quanto o alívio da dívida externa dos países mais pobres.

Também para a questão da dívida há várias propostas. Há quem proponha a venda de ouro do Fundo para a mobilização de recursos. Mas isso, segundo o diretor-gerente do FMI, seria Rodrigo de Rato, insuficiente para a solução do problema.