Título: Exportação pode ter efeito positivo sobre o PIB
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Fonte: O Estado de São Paulo, 12/04/2005, Economia & Negócios, p. B6

Avaliação é do diretor do BC Alexandre Schwartzman, mas dependerá do comportamento da importação

Se as exportações brasileiras crescerem mais do que o previsto neste ano, pode haver um impacto positivo nas atuais estimativas oficiais de expansão do Produto Interno Bruto (PIB), afirmou ontem o diretor para Assuntos Internacionais do Banco Central (BC), Alexandre Schwartzman, que participa da reunião anual do Banco Interamericano de Desenvolvimento (BID). "Elas contribuem na margem para um crescimento maior", explicou. Mas observou que as importações também pesam no crescimento do PIB, mas com efeito contrário. "Se ambas crescerem mais, é preciso ver o efeito líquido disso." O crescimento das exportações, informou, respondem por 18% do cálculo do PIB, e o das importações, 13%.

Segundo o diretor do BC, a velocidade do crescimento das exportações brasileiras "ainda é maior do que a das importações". Nos 12 meses terminados no mês passado, ante os 12 anteriores, as vendas externas aumentaram cerca de 30%. "Esse desempenho permite que o País cresça e importe mais sem ter problemas no balanço de pagamentos. Ele desloca a restrição do balanço de pagamentos, um fenômeno não visto no Brasil desde 1984, em que você tem crescimento e ampliação do superávit do balanço comercial."

Países que têm volumes grandes de comércio, na hipótese de um choque negativo, "têm que fazer muito menos esforço do ponto de vista de ajuste em taxa de câmbio para chegar a a bons resultados", acrescentou

CHINA E A 'BOBAGEM'

Alexandre Schwartzman considera equivocadas as análises que atribuem uma importância muito grande ao impacto das exportações para a China na economia brasileira. "Isso é uma bobagem. Queria que o mundo fosse uma coisa tão simples, mas é muito mais complicado", disse. "Para isso, basta ver os números." Nas exportações brasileiras em 2004, a China teve uma fatia de 5,6%, afirmou o diretor do BC. "Do crescimento das exportações entre 2003 e 2004, (cerca de US$ 23 bilhões), a China respondeu por US$ 900 milhões", disse.

Nos 12 meses terminados no mês passado, em relação aos 12 meses encerrados em março de 2004, as exportações cresceram US$ 24 bilhões. Desse total, "a China contribuiu US$ 500 milhões", disse.

Schwartzman observou que as vendas para a China têm outros efeitos positivos indiretos. "É preciso ver quanto a China explica do crescimento dos preços de commodities", disse. "E é importante notar que, do aumento das exportações brasileiras no ano passado, 60% foi em volume, 35% em preços e o resto pela combinação desses dois fatores.

SUPERÁVIT

Sobre as sugestões de que um superávit maior do que os 4,25% do PIB estabelecidos para 2005 poderia aliviar a política monetária, o diretor do BC afirmou: "Nossos exercícios de projeção de inflação obviamente envolvem uma hipótese acerca do desempenho fiscal primário. Uma das hipóteses com que trabalhamos é de um superávit de 4,25%, de acordo com a meta da Lei de Diretrizes Orçamentárias".

Segundo ele, "esse nível de superávit primário obviamente leva a uma trajetória de queda na inflação". E ressaltou que a meta de 4,25% "não tem nenhuma inconsistência entre a política monetária e a política fiscal".

O diretor observou que, "em qualquer lugar do mundo, se houvesse uma política fiscal mais apertada, isso iria requerer um pouco menos de esforço" da política monetária. "Se tivesse mais, gostaríamos também, ninguém iria reclamar de mais superávit primário. Mas o atual não impede a trajetória de queda de inflação."