Título: Lavagna avisa: não sigam o exemplo da Argentina
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Fonte: O Estado de São Paulo, 12/04/2005, Economia e Negócios, p. B6

O ministro da Economia da Argentina, Roberto Lavagna, procurou ontem afastar os temores de que a reestruturação da dívida argentina se torne um precedente para outros países emergentes que enfrentarem crises financeiras. "Sabemos que muita gente teme que esse caso sirva de exemplo", disse Lavagna em discurso na reunião anual do Banco Interamericano de Desenvolvimento (BID). "O preço que pagamos é tão alto que ninguém que for são vai querer ter a experiência argentina." Segundo o ministro, por causa da moratória de 2001, a Argentina enfrentou a sua recessão mais longa e profunda em 150 anos e viu um profundo empobrecimento sua população.

Domingo, Lavagna e o ministro das Finanças do Japão, Sadakuzu Tanigaki, trocaram acusações de má-fé em torno da reestruturação da dívida argentina. Lavagna observou ontem que desde o anúncio da reestruturação em setembro de 2001, o governo "tem atuado com boa-fé e se guiado por uma regra fundamental: não prometa algo que você materialmente não é capaz de realizar".

O ministro afirmou também que a Argentina não aceitará ser tratada com discriminação nas negociações de um novo acordo financeiro com o Fundo Monetário Internacional (FMI). Segundo fontes do governo argentino, ele referia-se ao tratamento dado pelo Fundo a países que já decretaram moratória.

O presidente da Argentina, Néstor Kirchner, analisa jogar duro nas negociações com o FMI. Fontes do governo revelaram que o acordo com o Fundo, suspenso desde agosto, só deverá ser fechado no quarto trimestre. Até lá, Kirchner e Lavagna se preparam para cobrir os buracos do orçamento sem depender da ajuda do FMI. "Todas as vezes que estamos prontos para fechar um acordo, o FMI faz uma nova exigência, que complica nosso plano econômico", reclamou uma fonte oficial em Buenos Aires.

O motivo da bronca do governo deve-se às últimas declarações do porta-voz do Fundo, Thomas Dawson, na semana passada, de que o FMI só poderá retomar um programa com o país se o governo chegar a um acordo com os credores que não aceitaram a renegociação da dívida.