Título: Recorde na balança não basta para melhorar posição do Brasil na OMC
Autor: Denise Chrispim Marin
Fonte: O Estado de São Paulo, 15/04/2005, Economia, p. B6

Apesar do crescimento de 32% das exportações, que chegaram a US$ 96,5 bilhões em 2004, o Brasil não se moveu do posto de 25.º maior exportador do mundo, a mesma posição de 2003, quando foram embarcados US$ 73,1 bilhões para o exterior. O relatório Comércio Mundial 2004 - Panorama para 2005, divulgado ontem pela Organização Mundial do Comércio (OMC), mostra também que a participação do País nas exportações mundiais avançou só 0,1 ponto porcentual em relação a 2003. O Brasil respondeu por uma fatia de 1,1% das vendas mundiais em 2004.

O ranking de maiores exportadores foi novamente liderado pela Alemanha, que vendeu no ano passado US$ 914,8 bilhões - cifra quase dez vezes maior que a do Brasil -, com participação de 10% nas exportações mundiais. O segundo posto ficou para os Estados Unidos, com US$ 819,0 bilhões.

A surpresa foi a China, que ultrapassou o Japão e alcançou o terceiro lugar, com exportações de US$ 593,4 bilhões. O ranking foi preparado com base no cálculo nominal das exportações, que inclui a reexportação de bens importados.

Os dados da OMC mostram que o Brasil foi o único sul-americano a figurar no ranking. Mas o País ficou bem atrás do México, um dos sócios da Acordo de Livre Comércio da América do Norte (Nafta) e um dos campeões mundiais em tratados desse gênero. Com exportações de US$ 188,6 bilhões, o México ocupou o 13º posto.

O Brasil manteve-se também em posição menos favorável que outras oito economias em desenvolvimento - Tailândia, Malásia, Cingapura, Taiwan, Rússia, Coréia do Sul, Hong Kong e a China.

O relatório registra, no entanto, o potencial de crescimento das exportações brasileiras ao assinalar a expansão ocorrida em 2004. O aumento de 32% foi bastante superior à média de crescimento nominal das exportações globais, de 21% no período. O porcentual de aumento foi ainda o quarto maior registrado, inferior apenas ao da Rússia e da China, de 35%, e da Polônia, de 38%.

O embaixador Piragibe Tarragô, diretor do Departamento Econômico do Itamaraty, lembrou que a magra fatia do Brasil no comércio global não diminui sua relevância na esfera de discussões internacionais. Conforme ele explicou, na OMC o Brasil sempre foi considerado mais pelo tamanho de sua economia, pelo seu histórico empenho na criação do sistema multilateral de comércio e pelo seu potencial de aumento de exportações e importações.

Entretanto, o vice-presidente da Associação Brasileira de Comércio Exterior (AEB), José Augusto de Castro, ponderou que a possibilidade de avanço expressivo nas exportações brasileiras nos próximos anos continua a esbarrar em entraves internos - taxas de juros elevadas, taxa de câmbio considerada inadequada pelos exportadores, burocracia, sistema tributário e a insuficiente e deficiente infra-estrutura.

"Fizemos um ótimo esforço em 2004, mas precisamos de algo muito mais vigoroso para que o Brasil possa mover, de forma visível, o ponteirinho de sua participação nas vendas mundiais", afirmou.

IMPORTAÇÕES

Nas importações, o Brasil teve um resultado mais encorpado. O País deixou a lanterninha do ranking dos 30 maiores importadores de bens do mundo para a Irlanda, subiu um degrau e conquistou a 29.ª posição. Em 2004, as compras externas brasileiras somaram US$ 65,9 bilhões, o que correspondeu a um aumento de 30% em relação a 2003.

Como ocorreu com as exportações, a expansão das importações brasileiras também foi superior à média global, de 21%, e à da América do Sul, de 18,5%. O crescimento, entretanto, não foi suficiente para o Brasil retomar a 27.ª posição, registrada em 2002.

Mesmo ganhando posições no ranking dos importadores, o País continuou estagnado no que se refere à participação no total de importações mundiais. A fatia brasileira continuou no mesmo patamar de 0,7% verificado em 2003. Em 1999, com importações de apenas US$ 51,7 bilhões, o País esteve melhor colocado nesse ranking, na 22.ª posição.

Economia com dimensões similares à do Brasil, o México ficou no 14º posto no ranking, com US$ 206,4 bilhões e aumento de 16% em suas compras do exterior em relação ao ano precedente. Sua participação nas importações globais foi de 2,2%.

No comércio de serviços, o Brasil continua em situação irrelevante. Não figura na lista dos 30 maiores exportadores e, assim como em 2003, ocupa a lanterninha no ranking de importadores. No ano passado, as importações brasileiras de serviços totalizaram US$ 16,3 bilhões, o que lhe garantiu uma participação de apenas 0,8% no consumo mundial do setor.

O crescimento de 12,0% nessas compras, em relação a 2003, foi ainda inferior à expansão global, de 16%. O relatório da OMC mostra que os Estados Unidos lideraram o comércio internacional do setor, com US$ 319,3 bilhões em exportações e US$ 259,0 bilhões em compras externas em 2004.