Título: Indústria tem queda na produtividade
Autor: Nilson Brandão Junior
Fonte: O Estado de São Paulo, 12/04/2005, Economia, p. B7

A produtividade da indústria recuou nos últimos meses. Depois de avançar forte em 2004, houve uma reversão, conforme estimativa preliminar do Instituto de Estudos para o Desenvolvimento Industrial (Iedi). Segundo o instituto, a produtividade em fevereiro ficou 2,5% abaixo do nível de agosto, o maior do ano passado, descontados os fatores sazonais. Em fevereiro, a produtividade recuou 1,7%. Em janeiro, a queda foi de 2%. Ainda assim, o Iedi aposta que a produção industrial avançará 4,5% este ano e a produtividade, entre 2% e 3% em 2005. Esta reversão se deve, basicamente, à fase atual de "produção praticamente estagnada com emprego industrial ainda em alta", explicou o diretor-executivo do instituto, Júlio Sérgio Gomes de Almeida. Ele disse que a época áurea do crescimento da produtividade industrial no ano passado foi entre fevereiro e agosto, quando houve grande aumento da produção sem avanço proporcional das horas trabalhadas.

A produtividade é a produção dividida pelos trabalhadores. No segundo semestre, enquanto a produção crescia menos ante o mês anterior, o emprego começou a reagir. "O emprego reage um pouco defasado, o que é normal. O empregador só contrata mais quando tem maior convicção de que os avanços na produção vieram para ficar", disse Almeida.

Ele afirmou que, paralelamente, a produção de bens de capital - que refletem investimentos para ganhos de produtividade - perdeu fôlego desde o fim de 2004. A produção do segmento em fevereiro caiu 4,5% ante dezembro, descontado o efeito sazonal. Segundo Almeida, a retração do setor agrícola desacelerou a demanda por maquinário, mas este efeito também é sentido em outros setores. "Tivemos um boom ano passado. Agora, o aumento da produtividade vai depender do avanço do investimento, que foi muito forte em 2004."

Além disso, a indústria passou por um processo de racionalização dos processos produtivos, de 2001 a 2003, em decorrência de fatores como a crise de energia, a crise do ano eleitoral e o baixo crescimento ano retrasado. Isso permitiu que a produção avançasse em 2004 (8,3%) "sem o crescimento forte das pessoas ocupadas". Ano passado, o pessoal ocupado cresceu 1,9%.

Este ano, o emprego industrial avançou 0,4% em janeiro com relação a dezembro (sem os efeitos sazonais). Em fevereiro sobre janeiro, o recuo foi de 1,2% na produção, segundo o IBGE. Pelos dados da Confederação Nacional da Indústria (CNI), usados pelo Iedi, o pessoal empregado cresceu 0,23% em fevereiro.

Um estudo do economista André Nassif, do BNDES, detalha que o avanço da produtividade na indústria nos anos 90 se deu mais pelo enxugamento de pessoal do que por inovações, mudanças técnicas, importações de máquinas e outros fatores.