Título: Daniel Dantas deve depor amanhã no Rio
Autor: Vannildo Mendes
Fonte: O Estado de São Paulo, 12/04/2005, Economia & Negócios, p. B9

O controlador do banco Opportunity, Daniel Dantas, será intimado hoje pela Polícia Federal a depor amanhã no caso Kroll, provavelmente no Rio de Janeiro. O advogado Nélio Machado, que defende o banqueiro e também a presidente da Brasil Telecom, Carla Cico, não espera um desfecho diferente do recebido pela executiva, indiciada por formação de quadrilha, divulgação ativa e corrupção ativa. Segundo ele, as investigações estão sendo "tendenciosas e arbitrárias". Machado classificou o tratamento dado a Cico como "um linchamento". O advogado revelou que pode entrar com novo pedido de habeas corpus ou solicitar um aditamento ao pedido já apresentado na semana passada à 5.ª Vara Federal Criminal de São Paulo. O primeiro pedido de liminar foi negado, mas o mérito ainda será julgado. Machado questionou judicialmente o procedimento da Polícia Federal. Segundo ele, desde o início do inquérito, os policiais que conduziram as investigações declararam que tanto Cico quanto Dantas deveriam ser indiciados.

O problema, segundo ele, é que não é da alçada da autoridade policial tecer prejulgamento sobre as investigações. "A Polícia Federal rompeu o princípio da presunção de inocência. Isso não foi observado neste caso", afirmou. O delegado responsável pelo caso tem agora cinco dias para fundamentar, junto ao juiz, o indiciamento de Carla Cico.

Machado sustenta que as investigações feitas pela Polícia Federal no caso Kroll foram tendenciosas. "Esta foi uma investigação enviesada desde o primeiro momento. Várias vertentes não foram levadas em consideração. O que a Carla sofreu foi um linchamento. Temos muita convicção de que uma executiva, prestigiada no mundo todo, não pode ser tratada como quadrilheira e bandida", disse o advogado, que convocou entrevista ontem à noite, no Rio, para falar sobre o caso.

FALTA DE PROVAS

"Corrupção ativa? Quem ela corrompeu?", questionou Machado, referindo-se às acusações contra Carla Cico. Ele garante que a polícia não tem nenhuma prova do envolvimento da executiva em possíveis irregularidades cometidas pela Kroll.

O advogado fez também sérias acusações ao italiano Antonio Janone que, segundo ele, é um dos principais executivos da Telecom Itália na área de segurança corporativa. Janone teria apresentado à Polícia Federal uma fita gravada de uma conversa entre ele e um investigador da Kroll. Na conversa, Janone teria se gabado de ter controle sobre as autoridades policiais no Brasil.

"Essa pessoa tem que ser investigada rigorosamente", disse Machado, ao lembrar que o executivo italiano chegou a ser recebido com "tapete vermelho" pela Polícia Federal durante as investigações. Para reforçar as alegações de que o inquérito está sendo conduzido de forma parcial, o advogado disse que Carla Cico forneceu todas as informações pedidas pela polícia, mas não teve seu depoimento levado em conta. "Estou afirmando concretamente que não havia embasamento para indiciá-la", declarou o advogado.