Título: Carla Cico depõe e é indiciada pela PF
Autor: Vannildo Mendes
Fonte: O Estado de São Paulo, 12/04/2005, Economia & Negócios, p. B9

Presidente da Brasil Telecom é acusada de formação de quadrilha e divulgação de informações protegidas por sigilo legal A presidente da Brasil Telecom, Carla Cico, foi indiciada ontem pela Polícia Federal por formação de quadrilha e divulgação de informações protegidas por sigilo legal. Pelos dois crimes, caso seja condenada, ela pode pegar até sete anos de prisão. Acusada de montar no Brasil uma rede de espionagem, em parceria com o banqueiro Daniel Dantas, do Grupo Opportunity, a executiva prestou depoimento por 3 horas, assistida por 5 advogados e 2 assessores. Carla ficou nervosa durante todo o tempo, mas não se recusou a responder às perguntas. À saída, não quis falar com a imprensa. Segundo a PF, as informações de Carla Cico não acrescentaram nenhum fato novo nem serviram para invalidar as provas de que ela e o banqueiro contrataram a empresa de auditoria americana Kroll Associates para bisbilhotar concorrentes empresariais e desafetos pessoais de Dantas. A espionagem acabou atingindo membros do primeiro escalão do governo federal. Hoje, será a vez de Dantas receber intimação no Rio de Janeiro para depor amanhã. Ele também deverá ser indiciado, com agravantes, segundo os policiais, pelo fato de ser líder da organização.

Por meio da Operação Chacal, realizada em outubro, a PF constatou que a rede de espiões montada pela Kroll, sob encomenda de Dantas e Carla, tinha ramificações em áreas estratégicas do serviço público. Os principais alvos da espionagem eram o empresário Luís Roberto Demarco, ex-sócio de Dantas, o ex-presidente do Banco do Brasil Cássio Casseb, o investidor Naji Nahas e o empresário Nelson Tanure. Entre as empresas investigadas, a espionagem atingiu principalmente a Telecom Italia, que disputa com o Opportunity o controle da Brasil Telecom.

E-MAILS

De 2003 até meados de 2004, a Kroll monitorou os contatos da Telecom Italia no Brasil. Os espiões captaram e-mails trocados entre o ministro da Comunicação de Governo, Luiz Gushiken, e Demarco, ex-sócio de Dantas no Opportunity, com o qual passou a travar uma agressiva batalha judicial. Proprietário, na época do rastreamento dos e-mails (2001 e 2003), de uma consultoria que atendia a fundos de pensão, Gushiken buscava com Demarco informações sobre Daniel Dantas no setor de previdência privada.

A análise de mais de uma tonelada de documentos, disquetes, computadores e relatórios recolhidos durante a Operação Chacal revelou que a Kroll tinha acesso a bancos de dados da Receita Federal e sobre a situação fiscal de contribuintes, pessoas físicas e jurídicas. O acesso incluía dados protegidos por sigilo constitucional, vetados até ao presidente da República, sem autorização judicial.

Entre os funcionários públicos e ex-servidores influentes que a empresa cooptou para o esquema, a PF identificou o ex-coordenador da unidade central de inteligência da Receita (Copei), Deomar Vasconcellos de Moraes. "Comprovou-se que Deomar possui vínculos e estaria trabalhando regularmente para a Kroll", diz o relatório do inquérito entregue à Justiça.

Deomar confirmou que trabalhou para a Kroll, mas que os fatos denunciados ocorreram antes de sua ida para a empresa. Ele disse que cumpriu uma quarentena voluntária de quatro meses antes de ir para a Kroll e a sua atividade se limitava à assessoria na área tributária.

Diálogos telefônicos entre o espião Tiago Nuno Verdial com seu chefe britânico, Willian Peter Goodal, o Bill, clientes e parceiros, interceptados com autorização judicial, comprovaram o poder da Kroll.

Num deles, publicado pelo Estado, Verdial abre o jogo ao tentar impressionar a empresária Marina Barbosa, especialista em marketing empresarial. "Eu tenho uma fonte na Receita que me passa absolutamente qualquer coisa de qualquer empresa", disse o espião.