Título: Brasil pode fazer mais' para ajudar Argentina, diz Amorim
Autor: Reali Júnior
Fonte: O Estado de São Paulo, 04/05/2005, Nacional, p. A4

Chanceler afirma em Paris que o País pode comprar mais trigo e petróleo e investir na economia da nação vizinha via BNDES

chanceler Celso Amorim afirmou ontem, em entrevista na Embaixada do Brasil na França, que o Brasil "poderia fazer mais pela Argentina do que tem feito" e que isso melhoraria as coisas para os dois lados. "O que acho que deveríamos fazer com a Argentina é comprar mais petróleo, mais trigo deles, mais compras governamentais e investir mais", disse ele depois de um encontro do G-20, o grupo dos países emergentes. "Deveríamos ter uma política industrial em que o Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES) pudesse ser usado para financiar investimentos (naquele país). Isso melhoraria a situação", acrescentou, numa avaliação aparentemente destinada a corrigir suas declarações do dia anterior, de que as relações entre os dois países estava boa e havia "muita fumaça" na divulgação das queixas do governo Néstor Kirchner contra o Brasil. O chanceler reafirmou que não vê "nenhuma tensão" entre os dois países e assegurou que a Argentina "é sempre a primeira a ser ouvida, sempre que se trata de alguma proposta nova". No entanto, "é normal que dois países importantes possam ter algum ponto de diferença". Ele se recusou a comentar críticas divulgadas anteontem pelo jornal El Clarín (de que a Argentina estaria disposta a endurecer nas relações com Brasília), mas declarou que "muitas vezes pode até haver mal-entendidos".

E foi adiante com seu raciocínio: "Temos de nos perguntar: será que fiz alguma coisa de errado? Posso até ter feito alguma coisa de errado, não sei, ou que tenha esquecido de fazer alguma coisa a mais do que deveria ter feito." Mais adiante, completou: "Às vezes, alguma coisa me escapa. (...) Em algumas coisas talvez haja, momentaneamente, uma visão diferente (entre os governos)".

A aliança entre os dois países "é estratégica" e o governo Lula "está determinado a aprofundá-la", garantiu. Destacou que o Brasil mantém fronteiras com dez países mas isso "em nada diminui a importância estratégica que o Brasil atribui, prioritariamente acima de qualquer outra relação, à Argentina."

TELEFONEMA

O ministro revelou que na noite da segunda-feira conversou ao telefone com o seu colega argentino, o chanceler Rafael Bielsa, e não ouviu dele qualquer queixa ou crítica ao comportamento brasileiro. O contato se limitou a uma troca de informações sobre datas de vários encontros, entre os quais a reunião de cúpula com os países árabes, na próxima semana, em Brasília.

Questionado sobre suas diferenças de opinião com empresários e até com alguns ministros do governo, o chanceler Amorim observou que "a visão atual dos empresários é hoje menos contundente do que era há seis meses" e lembrou de um encontro - que definiu como excelente - entre empresários dos dois países, na posse da nova diretoria da União Industrial.