Título: 'Orçamento deveria ser 20% a 30% maior'
Autor: Carlos Marchi
Fonte: O Estado de São Paulo, 04/05/2005, Nacional, p. A7

Cláudia Costin diz que fez 'o que tinha imaginado fazer' em 2 anos e 4 meses

A secretária estadual de Cultura, Cláudia Costin, que pediu demissão ontem, disse ao Estado que a decisão "já era coisa pensada" porque, depois de 2 anos e 4 meses no cargo, ela considera feito "o que tinha imaginado fazer". Agora pretende se dedicar a um projeto de educação ligado ao Terceiro Setor. Por telefone, ela deu a seguinte entrevista: A sra. enfrentou preconceito por não ser da área cultural? Sua saída teria a ver com isso?

De fato houve uma tensão no início, que é sempre mais visível num meio de artistas e personalidades, mas ela foi logo superada. Deixei o cargo porque considero que fiz o que tinha imaginado fazer. Não sou da área cultural, mas o que me propus foi melhorar a gestão e consolidar projetos, o que consegui. Além disso, estou há 2 anos e 4 meses tendo compromisso todas as noites e fins de semana, o que sacrifica toda a família. Eu não pretendia ficar o tempo inteiro; era uma coisa já pensada.

Que conquistas comemora?

Muitas, e todas com medidas de gestão. Ampliamos a visitação média dos museus estaduais em mais de 60%. Reabrimos o MIS, a Estação Pinacoteca e o Parque Modernista. Criamos o concerto a R$ 1 na Sala São Paulo aos domingos. Reformamos o Teatro Sérgio Cardoso, que nem sequer tinha ar-condicionado e agora é sede de duas orquestras, a Jazz Sinfônica e a Banda. Corrigimos os salários dessas orquestras e da Osesp. Inauguramos com sucesso a Casa das Rosas como espaço dedicado à poesia. E, principalmente, fizemos o programa de bibliotecas, "São Paulo, Estado de Leitores", que nesta semana chegou aos municípios que faltavam. Então acho um bom marco para encerrar o ciclo.

E quais as frustrações?

Não ter feito uma boa lei de incentivo estadual, compatível com a federal e a municipal. Acho as demandas por fomento legítimas, o que conseguimos fazer com mais destaque no caso do cinema, com o apoio à produção de 21 longas e 10 curtas em 2004. E, embora com a gestão tenhamos melhorado bastante as coisas, a dotação orçamentária da Secretaria é insuficiente; deveria ser 20% a 30% maior, o que faria uma diferença expressiva. Mas levo muito mais momentos emocionantes, como ver os meninos da Febem que fazem parte das orquestras do Projeto Guri tocando para os pais no Natal.

A sra. acha que essas ações e espaços consolidados correm risco? Quais os desafios do novo secretário?

Acho que não existe esse risco, até porque se trata do mesmo governo. Criamos um patamar, mostramos um caminho; era esse meu objetivo. Mas é claro que há muitos desafios. Ampliar a parceria com a Prefeitura, por exemplo. Meu último ato foi assinar uma cooperação com a Secretaria Estadual de Educação para criar na dança um projeto semelhante ao Guri, chamado Corpo Coral. Há também um empréstimo do BID para a implantação dos centros culturais nos CEUs de bairros mais violentos. Além, claro, do desafio de ter um orçamento à altura das demandas de um Estado como São Paulo.