Título: Falta política cultural, afirma ex-secretário
Autor: Antonio Gonçalves Filho
Fonte: O Estado de São Paulo, 12/04/2005, Metrópole, p. C1

Não foi só a proposta do prefeito José Serra de levar os Museus de Arte Contemporânea e de Arte Moderna para o pavilhão da Companhia de Processamento de Dados do Município (Prodam) no Parque do Ibirapuera que causou o pedido de demissão do escultor Emanoel Araújo, de 64 anos, da Secretaria da Cultura. Ele também criticou a ausência de uma política cultural para a cidade nesta entrevista, ontem à tarde: Por que o sr. se demitiu?

Foram alguns fatores.

Um deles foi a ampliação dos museus no Ibirapuera?

O problema é mais profundo. Falta definir uma política de cultura. Não é cultura ocupar espaços públicos com pose de benfeitores das artes. O patrimônio histórico da Avenida Paulista, por exemplo, está ameaçado pelo projeto de se construir uma torre com 125 metros num prédio tombado, com a desculpa de que de lá se poderá ver o mar e de obter recursos para o Masp.

O prefeito ainda não definiu uma política cultural?

Elaborei um projeto de gestão para a cultura, mas não foi possível colocá-lo em prática. São Paulo não possui uma política cultural. Também há escassez de recursos. Não apenas financeiros, como humanos. Graças à abnegação dos funcionários conseguimos realizar alguns projetos, como o catálogo Brasileiro, Brasileiros. O Teatro Municipal, por exemplo, não possui os mínimos equipamentos. Músicos e dançarinos ganham mal e com atraso.

O sr. sai magoado?

Não.

O que o sr. fará agora?

Continuar minhas esculturas. Agora me deixe ir trabalhar em meu ateliê.