Título: Cineastra é o secretário da Cultura
Autor: Antonio Gonçalves Filho
Fonte: O Estado de São Paulo, 12/04/2005, Metrópole, p. C1

Diretor do Centro Cultural SP e eleitor de Marta, Carlos Augusto Calil aceita convite de Serra para suceder Emanoel Araújo O cineasta, crítico, ensaísta e diretor do Centro Cultural São Paulo, Carlos Augusto Calil, é o novo secretário municipal da Cultura. Ele aceitou o convite do prefeito José Serra (PSDB) para assumir o cargo em substituição ao escultor Emanoel Araújo, que pediu demissão no domingo em carta enviada ao jornal Folha de S. Paulo. Primeira baixa na administração Serra, Emanoel, criador do Museu Afro-Brasil na gestão petista, não gostou da avaliação de Serra dos cem primeiros dias de governo. Na sexta-feira, o prefeito anunciou duas medidas que desagradaram a Emanoel: a instalação do acervo do Museu de Arte Contemporânea (MAC) no pavilhão da Companhia de Processamento de Dados do Município (Prodam) e a ampliação do Museu de Arte Moderna (MAM), no mesmo prédio, no Parque do Ibirapuera. Para Araújo, que ignorava a decisão, isso só pode resultar em choque de gestões. Elas, diz, "se opõem por sua natureza, uma vez que o MAM é um museu privado e o MAC, público".

O ex-secretário comparou isso a um "arranjo de quarto de despejo", condenando o lobby político dos "donos da cultura oficial" e dos "gaviões", de olho na Oca. Até recentemente, a Oca era ocupada pela BrasilConnects, de Edemar Cid Ferreira, dono do Banco Santos, sob intervenção federal. Emanoel criticou o abandono dos equipamentos da Prefeitura, citando as poltronas rotas de veludo do Teatro Municipal.

Calil disse concordar com a proposta do prefeito de levar mais museus para o parque. Serra não se pronunciou sobre a demissão de Emanoel.

REFORMAS

Como o ex-secretário, que recuperou a Pinacoteca, Calil tem experiência em prédios abandonados. Ao assumir o Centro Cultural, há quatro anos, a precariedade era tal que foi preciso investimento suplementar na estrutura, comprometida por goteiras. "Ao me chamar, acho que o prefeito pensou em um perfil mais administrativo. Não sou artista", disse Calil.

Ele chegou ao Centro Cultural pelas mãos do primeiro secretário da Cultura da gestão Marta Suplicy, Marco Aurélio Garcia. Ontem, na primeira entrevista como secretário, admitiu ter votado na petista em 2004. Como Emanoel.

No Centro Cultural, Calil fez reformas e instalou equipamentos nas salas de espetáculos, concluindo a catalogação de obras da Pinacoteca Municipal. Quase duplicou o número de visitantes - são 850 mil pessoas por ano.

Mas as dívidas se acumularam e, diz Calil, chegam a R$ 1,4 milhão. "Devemos não a pessoas jurídicas, mas físicas, o que é mais grave, porque são professores que deram palestras e curadores que trabalharam em mostras."

Calil disse ao Estado, pouco antes de se reunir com Serra, que só aceitaria o cargo - ele recebeu o convite pela manhã - se a Prefeitura pagasse as dívidas da Cultura: R$ 16 milhões. "Vou pedir ajuda, porque saldá-las é um ponto de honra." Condicionou a aceitação do cargo a isso e, ao sair da sala do prefeito, confirmou que pagar as dívidas será prioridade.

Calil conversou com Emanoel antes de aceitar o cargo. "Ele disse que se desapontou muito. Não esperava encontrar o que encontrou e não teve condições de desenvolver os projetos", resumiu.

Alguns pontos da carta de renúncia coincidem com suas observações sobre a Cultura. "O Municipal está ruindo, a situação da Biblioteca Mário de Andrade é terrível. Enfim, há muito por fazer, como achar uma solução para a Galeria Olido, sem dotação orçamentária a partir de julho."

Outra preocupação é estreitar o diálogo com a Educação, em especial quanto aos CEUs. "Essa equação entre cultura e educação não está bem resolvida." Calil elogiou o projeto vitrine de Marta. "São experiências únicas de confluência da cultura com a educação. Isso é crucial para o País.