Título: Testemunha reconhece sete PMs
Autor: Karine Rodrigues
Fonte: O Estado de São Paulo, 12/04/2005, Metrópole, p. C4

Sete dos oito policiais militares indiciados pela chacina na Baixada Fluminense foram reconhecidos ontem por uma testemunha no Fórum do Rio. Ela afirmou que seis dos policiais tiveram participação direta no massacre, ocorrido no dia 31, e o sétimo PM fazia parte, com os demais acusados, de um grupo de extermínio. O delegado-executivo da Superintendência da Polícia Federal, Roberto Prel, que esteve no fórum, disse não ter dúvida sobre a participação dos seis reconhecidos na chacina. Ele não revelou os nomes dos PMs apontados, mas afirmou que a pena para co-participação no crime será igual à dos assassinos.

Até agora há oito policiais em prisão temporária e outros quatro detidos administrativamente. Prel disse que estuda pedir à Justiça mandado de prisão de mais uma pessoa, cujo nome não foi divulgado, além de outros mandados para busca e apreensão. O delegado disse que a PF está checando o álibi apresentado pelo novo suspeito.

A audiência de ontem foi realizada no Rio a pedido da testemunha, que disse ter medo de fazer o reconhecimento na Baixada. Protegida por forte esquema de segurança, ela chegou encapuzada e assim ficou. Recusou-se a retirar o capuz até mesmo diante da juíza que comandou a sessão - também temendo represálias, a juíza pediu para não ser identificada.

Com prisão temporária decretada na semana passada, os oito indiciados que participaram do reconhecimento foram Carlos Jorge Carvalho, Marcos Siqueira Costa e Júlio César Amaral de Paula, do 20.º Batalhão da PM (Mesquita); Ivonei de Souza, Maurício Jorge da Matta Montezano, Fabiano Gonçalves Lopes e José Augusto Moreira Felipe, do 24.º Batalhão (Queimados); e Gilmar da Silva Simão, do 3.º BPM (Méier).

No depoimento, requerido pelo Ministério Público a pedido da Polícia Federal, a testemunha disse que no dia 31 percebeu a movimentação de policiais na área antes dos crimes e ouviu disparos logo em seguida. Afirmou também que os criminosos usaram três carros. De acordo com a juíza, que decretou sigilo nos dois inquéritos abertos sobre o massacre - um da PF e outro da Polícia Civil -, a testemunha havia citado nomes e apelidos de PMs antes.

O promotor Marcelo Muniz disse que a audiência para reconhecimento foi realizada ontem para produzir provas antecipadas, já que em caso de chacinas as testemunhas costumam desaparecer ou mudar as declarações. "O maior problema é amnésia", ironizou Muniz. O promotor informou já ter provas suficientes para oferecer a denúncia, mas disse que vai aguardar a conclusão dos dois inquéritos.

AJUDA

O chefe de Polícia Civil, delegado Álvaro Lins, afirmou ontem que o trabalho da PF deveria ser só de colaboração na apuração do massacre. "A participação da PF é bem-vinda. O que é prejudicial é a existência de dois inquéritos." Prel disse não ver problema nenhum, já que os inquéritos poderão virar um só no futuro.