Título: O que há por trás: a luta por cargos
Autor: Rosa Costa
Fonte: O Estado de São Paulo, 16/04/2005, Nacional, p. A4

Para senador peemedebista, Lula privilegia aliados como o PTB e o PL

BRASÍLIA - A insatisfação do presidente do Senado, Renan Calheiros (PMDB-AL), e de vários dirigentes do PMDB com o governo federal não se limita ao excesso de medidas provisórias. Traduz, na realidade, a deterioração da aliança do PMDB com o PT e a falta de expectativa diante das promessas não cumpridas pelo Planalto. Um senador peemedebista diz que, ao reagir, Renan sinaliza a seus colegas de partido que está atento a todas as desfeitas impostas pelo governo ao PMDB. Não apenas na tentativa de se eximir da responsabilidade pela nomeação de Romero Jucá para o Ministério da Previdência, mas por ataques desferidos em três outras direções. O partido se queixa, por exemplo, da predileção do Planalto por aliados de menor porte, como PTB e PL, na entrega de cargos. Protesta ainda pela antecipação da disputa eleitoral dos Estados, a ponto de o PT hostilizar abertamente os governadores Germano Rigotto, do Rio Grande do Sul, e Luiz Henrique, de Santa Catarina, e pelo esvaziamento de cargos ocupados pelo PMDB.

Para o parlamentar, o caso da Transpetro, ocupada pelo ex-senador Sérgio Machado (PMDB-CE), é emblemático. Ele foi indicado para o cargo dotado de uma boa dose de autonomia, subordinado à presidência da Petrobrás. Hoje, além de ter petistas por todos os lados controlando suas atividades, Machado foi surpreendido pela criação de novas diretorias que interferem nas suas decisões.

Na Mesa do presidente do Senado, está ainda a queixa dos deputados cearenses Aníbal Gomes e José Gerardo, "padrinhos" do diretor do Departamento Nacional de Infra-Estrutura de Transporte (DNIT). Foram surpreendidos pela troca do nome por outro indicado pelo PL. A rejeição de José Fantine, indicado pelo governo para a diretoria-geral da Agência Nacional do Petróleo (ANP), foi outro sinal da insatisfação do PMDB.

De quebra, o partido termina estimulando a rebelião de petistas nas votações secretas, além de "acordar" para problemas como o do abuso das MPs. Há exatos nove meses, tramita no Senado uma proposta do senador Paulo Paim (PT-RS) para devolver ao governo as MPs de conteúdo semelhante a projeto que esteja no Congresso.