Título: Planalto avalia que derrubar Jucá é operação de alto risco
Autor: Christiane Samarco
Fonte: O Estado de São Paulo, 12/04/2005, Nacional, p. A4

Para aliados e oposicionistas, decisão de manter ministro, apesar das denúncias, se deve ao temor de perder maioria no Senado BRASÍLIA - Não é a solidariedade ao PMDB ou a tolerância com o aliado que leva o Palácio do Planalto a sustentar no cargo o ministro da Previdência, Romero Jucá (PMDB-RR). Em meio ao bombardeio de denúncias contra o ministro, aliados e adversários do governo avaliam que o presidente Luiz Inácio Lula da Silva decidiu bancar Jucá em nome da governabilidade. "Os ataques sobre o ministro são sem dúvida fogo amigo, porque nós, da oposição, estamos calados", afirma o senador José Jorge (PFL-PE), que assumirá na terça-feira a liderança da minoria oposicionista no Senado.

Na mesma linha da ala governista do PMDB, que suspeita de uma ação de setores do governo por trás da "reedição insistente de velhas acusações" contra o ministro, o pefelista adverte que uma operação para derrubá-lo seria de alto risco para o Planalto. "É uma situação difícil para o governo porque, se por acaso tirarem Romero, eles perdem a maioria no Senado", emenda José Jorge.

Foi grande o movimento em defesa de Jucá no Senado esta semana. Primeiro, o líder do PMDB na Casa, Ney Suassuna (PB), comandou uma operação que começou no PMDB, reunindo a assinatura de 20 senadores, em um manifesto em favor de Jucá. Depois, leu o documento da tribuna e, ontem, derramou elogios ao ministro.

"Não há no Congresso alguém tão ágil e capaz de resolver o déficit previdenciário como Romero Jucá", disse o senador.

Mas o líder vai muito além da análise do perfil de bom gestor, que estimulou o presidente Lula a enfrentar o eventual desgaste das denúncias e indicar o senador para o ministério. Sem vacilar, Suassuna adverte: "Na hora em que fuzilarem um perfil como o dele, estaremos perdendo não só um grande gestor e um bom parceiro, mas arrastando um pote de mágoa. E mágoa, em política, não é coisa boa e leva tempo para destilar".

No PMDB prevalece a avaliação de que setores do Planalto e do PT alimentariam as denúncias por estar incomodados com a hegemonia do partido no Senado. Além de ter a presidência do Congresso e comandar a maior bancada, é o PMDB que está à frente da Comissão de Assuntos Econômicos (CAE) e da Comissão de Fiscalização e Controle.

O PMDB mostrou sua força, para o mal e para o bem no que se refere aos interesses do governo, esta semana. Ajudou a derrubar a indicação para a Agência Nacional de Petróleo (ANP), mas evitou que o tesoureiro do PT, Delúbio Soares, fosse convocado a depor na Comissão de Fiscalização e Controle.