Título: Royalties do petróleo dão destaque a cidades do Rio
Autor: Wilson Tosta Luciana Nunes Leal Adriana Chiarini
Fonte: O Estado de São Paulo, 04/05/2005, Nacional, p. A8

Quissamã, no Rio, nunca teve extraída do seu solo uma só gota de petróleo, mas deve ao produto seu 3.º lugar no ranking dos maiores PIBs municipais per capita em 2002 - R$ 137.463, ou 18 vezes o PIB nacional, de R$ 7.631 -, atrás de São Francisco do Conde (BA), com R$ 273.140, e Triunfo (RS), com R$ 163.348. É que o crescimento dos royalties pagos sobre a exploração petrolífera na Bacia de Campos expandiu a base de cálculo do indicador, tirando a cidade do 7.º lugar em que estava em 1999. Dos dez municípios com maiores PIBs per capita do Brasil, só três não o deviam ao setor. É também aos royalties pagos pela produção petrolífera no litoral fluminense que se deve a presença de outros três municípios do Estado na lista dos dez com maiores PIBs per capita: Carapebus, que passou do 14.º lugar, em 1999, para o 5.º em 2002 (R$ 109.812), Rio das Ostras, que foi de 19.º para 6.º lugar (R$ 100.751); e Armação dos Búzios, que passou de 24.º para 10.º (R$ 74.286). O 5.º município fluminense no ranking, Porto Real, deve o 4.º melhor PIB per capita do País (R$ 130.822) à indústria automobilística: lá ficam fábricas da Volks e da Peugeot-Citr¿en.

MISÉRIA

Mas o alto PIB per capita e o crescimento industrial forte ainda estão longe de mudar o quadro social desses municípios. O IBGE registra em seu site na internet (www.ibge.gov.br) que Quissamã, por exemplo, tinha para o biênio 2001/2002 renda nominal média de R$ 389,74 - R$ 331,94 para as mulheres. O prefeito Armando Carneiro (PSC) comemora a arrecadação crescente a partir de 2000, que lhe garante que 55% dos R$ 95 milhões do orçamento anual sejam sustentados pelos royalties do petróleo, mas admite que "a região é paupérrima", explicando que "80% da população é oriunda da atividade canavieira, intensiva em mão-de-obra de baixa qualificação".

A única usina de açúcar fechou, privando a cidade de seu único grande empregador. A prefeitura investe o dinheiro dos royalties em incentivos fiscais para atrair empresas (duas já se comprometeram) e em habitação, programa de saúde da família, rede de esgoto e educação, entre outros. "Quem passa para a universidade ganha uma bolsa", contou Carneiro. "O filho do cortador de cana já vai para a faculdade."