Título: Secretário de Meio Ambiente condena retomada de Angra 3
Autor: Mariana Caetano
Fonte: O Estado de São Paulo, 16/04/2005, Nacional, p. A7

Para José Goldemberg, idéia é "obscura" e não "estratégica" como afirma o governo O ex-ministro e secretário de Meio Ambiente do Estado de São Paulo, José Goldemberg, fez novo apelo ontem contra a retomada das obras da usina nuclear de Angra 3. A idéia de que a construção da usina é estratégica para o País - como argumentam o ministro-chefe da Casa Civil, José Dirceu, e o ministro da Ciência e Tecnologia, Eduardo Campos - "é obscura", criticou Goldemberg. "O que é ser 'estratégico'? Isso não está claro. Manter aberta a opção nuclear pode significar, eventualmente, ter armas nucleares. Há 30 anos os militares usavam esse mesmo argumento." Na quinta-feira, José Dirceu anunciou que vai apresentar parecer favorável à retomada das obras. A usina é tema de avaliação do Conselho Nacional de Política Energética (CNPE) e opõe os ministérios da Energia e Meio Ambiente - contrários ao projeto - a Dirceu e Campos. Em reunião ainda a ser marcada, o CNPE deverá fechar posição a respeito do destino do projeto e encaminhar ao presidente Luiz Inácio Lula da Silva.

Para Goldemberg, ao contrário do que imagina parte do governo, a conclusão de Angra 3 ou a posse de armas nucleares não servirão de incentivo à entrega de um assento permanente para o Brasil no Conselho de Segurança da Organização das Nações Unidas (ONU). "Muito pelo contrário", disse. "Se fosse assim, o Paquistão já teria assento no conselho."

"A Casa Civil e o Ministério da Ciência e Tecnologia usam argumentos políticos. Toda a análise técnica, do Ministério de Minas e Energia e do Meio Ambiente, é contrária", insistiu o secretário. "Pior, a usina representa um custo altíssimo, para pouco resultado. São US$ 1,8 bilhão para concluir a usina e, se o Brasil pretende exportar urânio enriquecido vai se dar mal. Há excesso de oferta no mercado."

Goldemberg não vê grande futuro para a energia nuclear. "Ela gera 17% da eletricidade usada no mundo, mas está concentrada em poucos países (França, Japão, Estados Unidos e Coréia). A energia nuclear representa apenas 6% da energia primária usada no mundo e provavelmente não vai crescer muito porque a maioria dos países em desenvolvimento não tem condições de utilizá-la", afirmou. "São várias razões para isso, entre as quais a de que é mais cara."

O ex-ministro aposta nas energias renováveis - como a solar. "Elas estão se tornando ou já são competitivas com combustíveis fósseis, principalmente a energia eólica e biomassa", disse. "A energia eólica é integrada no sistema elétrico dos países de modo que complementa significativamente outras fontes. Na Dinamarca, representa mais de 20% da eletricidade gerada."

A biomassa, explicou Goldemberg, representa cerca de 15% do consumo mundial mas costuma ficar de fora das estatísticas da Agência Internacional de Energia. "No Brasil, o Programa do Álcool mostra que o petróleo pode ser substituído em larga escala."