Título: Brasil é eliminado da disputa na OMC
Autor: Isabel Sobral
Fonte: O Estado de São Paulo, 16/04/2005, Economia & Negócios, p. B1

Nome do embaixador Seixas Corrêa é retirado pelo governo depois de sondagem que o apontava em quarto lugar nas preferências BRASÍLIA - O ministro das Relações Exteriores, Celso Amorim, anunciou ontem a retirada da candidatura do embaixador Luiz Felipe Seixas Corrêa ao cargo de diretor-geral da Organização Mundial do Comércio (OMC), pouco depois de ser informado do resultado de uma sondagem que apontava o brasileiro em quarto lugar na preferência dos países membros da entidade. Foi uma dura derrota da diplomacia brasileira, que vinha se empenhando intensamente em favor de Seixas, ao ponto, inclusive, de colecionar atritos com países tradicionalmente aliados, inclusive na América do Sul, como Argentina e Uruguai. Ao reconhecer o fracasso da estratégia brasileira, o ministro fez duras críticas à OMC e ao método de escolha do diretor-geral. Amorim afirmou que foi mais "decepcionante" não conhecer os resultados precisos das preferências manifestadas pelos vários países, do que saber que Seixas Corrêa foi o nome com menos chances de obter consenso entre os membros da OMC para ocupar o posto. "Não houve divulgação de números ou indicações precisas e isso deixa uma suspeita no ar", afirmou o ministro. Apesar das críticas, o Brasil não vai contestar o resultado.

"A forma como foi divulgado (o resultado) dá margem para que continue a se falar da falta de transparência da OMC", declarou Amorim. De acordo com o ministro, o anúncio feito ontem em Genebra pela presidente do conselho geral da OMC, Amina Mohamed, causou "certa surpresa" ao governo brasileiro, pois nos últimos dias, segundo ele, o Brasil teve algumas indicações de que a candidatura de Seixas Corrêa tinha chances de passar por essa primeira etapa de escolha. Dessa forma, poderia tornar-se ainda mais forte na reta final da disputa.

Permanecem na corrida pelo cargo mais alto na entidade o candidato da União Européia, o ex-comissário de Comércio Pascal Lamy, Carlos Perez del Castillo, do Uruguai, e Jaya Krishna Cuttaree, da República de Maurício.

O ministro agradeceu os apoios de vários países à candidatura brasileira, dentre eles China, Índia, Catar, Panamá e Tailândia, que chegaram a declarar formalmente a adesão a Seixas Corrêa. Segundo Amorim, outras nações, principalmente da América Latina, afirmaram que apoiariam, mas, na hora do recolhimento das preferências, os apoios não se concretizaram porque existiam outros compromissos. "Em eleições, muitas vezes pesam outras questões, outras trocas", justificou Amorim.

"Como não tivemos acesso aos resultados finais, não podemos analisar em detalhes", acrescentou o ministro, comparando a situação a uma eleição em que quando as urnas são abertas a contagem de votos fica em segredo. "Isso é lamentável para a OMC."

CARAVANA DA CIDADANIA

Amorim disse que o governo ainda não decidiu quem apoiará agora para a direção da organização. "Vamos ainda analisar o quadro e, no momento certo, nos posicionaremos." Para o ministro, o importante é continuar a trabalhar para fortalecer as regras do livre comércio internacional por meio da coordenação do G-20, atualmente a cargo do Brasil, e assegurar que a conclusão da Rodada Doha.

Ao tentar passar otimismo e enfatizando que "perder às vezes pode não ser tão ruim", o ministro fez um paralelo entre esse episódio e a derrota do PT nas eleições presidenciais de 1989 - fato que se repetiu em 1994 e 1998 - até chegar à vitória em 2002. Segundo Amorim, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva costuma citar como lado positivo dessa trajetória ter tido tempo para estruturar melhor o PT como partido político e ter feito as viagens pelo País, chamadas de Caravanas da Cidadania. "Quem sabe não tenhamos que fazer uma 'caravana da cidadania' na OMC?", provocou.

O destino do embaixador Seixas Corrêa também não está decidido. "Ele é um grande embaixador e poderá ficar em Genebra ou assumir qualquer outra embaixada", afirmou Amorim.