Título: Petróleo deverá continuar sob pressão
Autor: João Caminoto
Fonte: O Estado de São Paulo, 16/04/2005, Economia & Negócios, p. B7

LONDRES - O preço do petróleo, um dos principais responsáveis pela onda de nervosismo que assola os mercados, deve continuar pressionado pelo menos no restante de 2005. Segundo analistas consultados pelo Estado, isso deverá continuar alimentando o temor de uma desaceleração mais acentuada do crescimento econômico mundial, afetando as expectativas dos resultados das empresas e estimulando uma migração dos investidores para ativos de menor risco. Um desaquecimento econômico provocado, entre outras coisas, pela alta do petróleo, poderá ter um impacto negativo sobre os países cujas economias são fortemente baseadas na produção de commodities primárias, como o minério, cujo consumo global tende a declinar. O alerta de que a alta do petróleo poderia ter um impacto preocupante sobre a economia global foi dado há cerca de um ano pela Agência Internacional de Energia, mas parece que só agora os mercados estão começando a levá-lo mais a sério. Na semana passada, o Fundo Monetário Internacional previu que os mercados de petróleo deverão permanecer voláteis nas duas próximas décadas, com os preços permanecendo altos. Eventos que possam ameaçar o atual nível de produção, como ataques terroristas, greves em refinarias ou tensões no Oriente Médio têm o potencial de alavancar os preços para níveis ainda mais altos.

"A principal explicação para a nossa previsão de que os preços deverão continuar acima dos US$ 40 por barril é simples: a demanda pela commodity continua forte, a capacidade ociosa de produção limitada e os estoques em níveis insatisfatórios", disse Simon Williams, analista da consultoria Economist Intelligence Unit. Ele lembrou que no ano passado, a média dos preços do barril Brent, negociado em Londres, foi de US$ 38,50, a maior das duas últimas décadas. "Este ano ela poderá ficar bem acima disso", observou.

Segundo o economista, a permanência do petróleo em níveis historicamente altos tem um impacto sobre o Brasil principalmente por via indireta: "O Brasil está próximo da auto-suficiência em petróleo, mas a economia do País sente diretamente os efeitos do que os Estados Unidos, onde preços mais altos vêm afetando as expectativas, o mesmo acontecendo na Europa".

Para o economista Adam Sieminski, do Deutsche Bank, os preços do barril devem oscilar entre US$ 40 e US$ 50 em 2005. "Não tem jeito, o mercado está apertado com a forte demanda capitaneada pela China, os estoques e a capacidade de refino são limitados, a Opep não tem como elevar significativamente a produção no curto prazo", disse. Mas ele vê a possibilidade de os preços entrarem em rota de queda gradual, com o desaquecimento econômico mundial afetando a demanda pela commodity.