Título: Brasil ganhou resistência a choques, diz Palocci
Autor: Rolf Kuntz
Fonte: O Estado de São Paulo, 16/04/2005, Economia & Negócios, p. B10

Ministro fala sobre reformas e afirma que é possível reduzir gasto e peso de impostos

WASHINGTON - O ministro da Fazenda, Antonio Palocci, disse ontem que o Brasil está mais preparado para enfrentar turbulências externas porque as exportações alcançaram US$ 100 bilhões, o superávit comercial chegou a US$ 35 bilhões, as reservas cresceram e a parcela da dívida interna vinculada ao câmbio caiu de 40% para 7%. "O organismo da economia está mais saudável", segundo ele, e "se houver chuvas e trovoadas, não sofrerá tanto quanto no passado". O ministro falou sobre a resistência da economia brasileira no final de uma palestra para economistas, num evento promovido pelo World Economic Laboratory (Laboratório Econômico Mundial), vinculado ao Instituto de Tecnologia de Massachusetts.

Palocci disse também que é possível cortar o gasto público sem rebaixar a qualidade dos serviços, sem prejudicar os programas sociais e sem aumentar os impostos. Mostrando gráficos, afirmou que a carga tributária caiu em 2004 depois de 6 anos de crescimento e ficou pouco abaixo de 35% do Produto Interno Bruto.

O risco de nova instabilidade nos mercados globais é um dos temas em discussão na reunião de primavera do Fundo Monetário Internacional (FMI) e do Banco Mundial (Bird). O cenário tem sido benigno até agora, segundo os economistas do Fundo, mas poderá mudar se as cotações do petróleo continuarem a subir ou se os juros crescerem mais velozmente nos Estados Unidos e noutros grandes mercados.

Até o momento, comentou Palocci numa entrevista, à tarde, os juros americanos têm subido de forma ordenada e com moderação, sem causar problemas ao Brasil e a outras economias em desenvolvimento. É importante, segundo ele, que o Fundo Monetário acompanhe o desenrolar dessa política e suas conseqüências. Se o ritmo dos juros mudar, haverá impactos para todo o mundo, reconheceu Palocci, mas o Brasil, insistiu, estará mais preparado para suportar o impacto do que estava há alguns anos.

De toda forma, é preciso que o FMI, disse o ministro, seja capaz de apoiar com rapidez os países que já adotam políticas prudentes e que ficarão expostos a problemas em caso de instabilidade internacional. Os brasileiros deverão insistir nesse ponto nas discussões deste fim de semana, adiantou Palocci. O Brasil defenderá, além disso, tanto na reunião do FMI quanto na do Bird, maior urgência e maior eficiência no apoio econômico aos países mais pobres, especialmente aos da África.

A insistência no auxílio rápido aos países com políticas consideradas saudáveis era previsível. O governo brasileiro mantém a campanha a favor da criação de uma linha de financiamento preventivo, que fique à disposição dos países com boa folha corrida sem grande complicação burocrática e sem imposição das condições habituais.

Palocci comentou também a projeção do FMI para o crescimento econômico do Brasil neste ano, 3,7%. O importante, disse, não é saber se a economia brasileira crescerá 5% ou menos em 2005, mas ter a segurança de que haverá expansão por muito tempo. É isso, argumentou, que os investidores querem saber antes de pôr dinheiro num projeto. E é disso, acrescentou, que o governo vem cuidando.

COM SNOW

À tarde, Palocci conversou durante 40 minutos com o secretário do Tesouro dos Estados Unidos, John Snow. O secretário americano, segundo uma testemunha do encontro, elogiou a decisão do governo brasileiro de não renovar o acordo com o FMI.

Depois desse encontro, o ministro visitou os chefes do FMI e do Bird e encontrou representantes de países que participam do grupo do Brasil nas duas instituições.

Na palestra da manhã, ele havia apresentado, com quadros, informações sobre a economia brasileira e sobre as reformas em andamento. Ao descrever a agenda de 2005 e 2006, mencionou projetos de simplificação de abertura e fechamento de empresas, criação de uma base de dados de informação positiva sobre crédito, mudança de padrões contábeis, reforma do mercado de resseguro e reorganização do sistema de defesa da concorrência, com integração do Cade, da Secretaria de Direito Econômico e da Secretaria de Acompanhamento Econômico. Boa parte da palestra foi destinada a mostrar mudanças institucionais que possam melhorar o ambiente de negócios.