Título: Para o FMI, spread brasileiro é excessivo
Autor: Rolf Kuntz
Fonte: O Estado de São Paulo, 16/04/2005, Economia & Negócios, p. B11

Economista do Fundo repete diagnóstico e diz que bancos têm pouca concorrência

WASHINGTON - O Brasil precisa de mais concorrência entre os bancos para reduzir suas taxas de juros, disse ontem o economista Charles Collyns, diretor-adjunto do Departamento do Hemisfério Ocidental do Fundo Monetário Internacional (FMI). Os juros brasileiros são altos por vários fatores estruturais e não simplesmente por causa da política do Banco Central (BC), de acordo com o economista. A política do Banco Central tem sido defendida pelos dirigentes e funcionários do Fundo Monetário Internacional. Collyns descreveu o Brasil como um outlier em matéria de spreads bancários. Essa palavra designa algo que fica fora de uma área, de uma linha ou de um padrão e, nesse contexto, designa uma anomalia, porque os juros brasileiros de mercado são muito mais altos que os da maioria dos países.

O amplo spread brasileiro, isto é, a diferença entre as taxas pagas e as taxas cobradas pelos bancos, é explicável por vários fatores, segundo Collyns. O economista mencionou, além do baixo grau de concorrência, os tributos, a obrigatoriedade de certos tipos de empréstimos e a insegurança das operações.

A nova Lei de Falências, disse o funcionário do Fundo Monetário Internacional, deve tornar mais segura a recuperação do dinheiro emprestado pelos bancos e contribuir para a redução dos spreads. O diagnóstico de falta de concorrência havia sido divulgado alguns meses antes pelo Fundo.

Juros à parte, a avaliação da economia brasileira foi, em geral, positiva, na entrevista concedida ontem pela equipe do Fundo Monetário Internacional responsável pela América Latina. O quadro regional foi descrito com um tom otimista pouco freqüente nas últimas décadas.

A nota de mau comportamento ficou para o governo da Argentina, que declara encerrada a negociação com os credores. Uma parte deles, principalmente italianos e japoneses, recusou esses termos. Eles detêm 24% da dívida, uma parcela de US$ 20 bilhões. A reestruturação envolveu uma troca de papéis velhos por novos e uma redução de cerca de dois terços do valor devido. Para a Argentina, os que ficaram fora não são prioritários.

O diretor do departamento, Anoop Singh, disse que é do interesse da Argentina buscar um entendimento com os credores que ficaram fora da reestruturação. O governo tem de completar o acerto para que o país possa retornar ao mercado de capitais e obter financiamentos necessários à expansão da economia, acrescentou.

No dia anterior, o diretor-gerente do Fundo, Rodrigo de Rato, havia dito que um novo acordo entre a instituição e a Argentina estava condicionado à solução desse problema. "Nada mudou desde ontem", disse Singh.