Título: Na chacina, PMs deram 96 tiros
Autor: Clarissa Thomé e Roberta Pennafort
Fonte: O Estado de São Paulo, 16/04/2005, Metrópole, p. C7

Dois dos 29 mortos na Baixada Fluminense receberam 13 tiros cada um, mostram laudos da Polícia Técnico-Científica do Rio

RIO - Laudos dos exames feitos nos corpos das 29 vítimas da chacina na Baixada Fluminense mostraram que os atiradores fizeram 96 disparos de pistolas e revólveres. Só o padeiro César Penha, de 30 anos, e o vigilante José Augusto Silva, de 38, receberam 13 tiros cada um. Seis pessoas foram executadas com uma única bala, na cabeça. As demais foram atingidas, em média, por três projéteis. As informações foram divulgadas ontem pelo diretor de Polícia Técnico-Científica do Rio, Roger Ancillotti. Ele espera para os próximos dias o resultado de laudos periciais de oito armas particulares dos policias suspeitos.

Agentes ligados à investigação do massacre disseram que há um racha entre os policiais militares acusados. O soldado Fabiano Gonçalves Lopes está isolado no 24.º Batalhão da Polícia Militar, quartel onde é lotado, por estar sendo ameaçado pelos colegas. Lopes foi o primeiro suspeito preso pela polícia. "Fabiano está isolado. Não posso dizer por qual motivo porque os depoimentos estão sob segredo de Justiça", disse o promotor da 4.ª Vara Criminal de Nova Iguaçu, Marcelo Muniz.

O advogado do soldado, Fábio Carreiro, não quis comentar o caso. "Essa informação não chegou até mim." Indiciado como executor da chacina pela Polícia Civil, ele esteve reunido com quatro PMs no bar Águia Branca, Nova Iguaçu, na noite de 31 de março, pouco antes do crime. Lopes saiu antes dos demais.

A polícia conseguiu localizar as donas da casa em Queimados que servia como ponto de encontro dos PMs. Segundo denúncias recebidas pela polícia, os PMs usavam o local para extorquir dinheiro de caminhoneiros parados na Via Dutra. As duas disseram que o imóvel foi alugado em 11 de fevereiro de 2004 para o cabo Gilmar Simão, indiciado como assassino no massacre.

O contrato de um ano previa pagamento mensal de R$ 250,00 mas Simão estava inadimplente. De acordo com as mulheres, ele foi indicado pelo soldado Ivonei de Souza, que mora ao lado da casa. Souza está preso por esconder provas da chacina. "Elas não sabiam que ninguém morava lá. Souberam pelos jornais e ficaram com medo", disse o advogado das duas, Honório Reis.