Título: Reforma sindical subiu no telhado
Autor: Dora Kramer
Fonte: O Estado de São Paulo, 17/04/2005, Nacional, p. A6

Vivendo um momento particularmente difícil no Congresso, sem maioria na Câmara nem no Senado, o governo já percebeu que não tem condições de enfrentar votações polêmicas e, portanto, o ideal é suspender toda e qualquer movimentação capaz de suscitar conflitos desnecessários e produzir derrotas. Brigas, só as inadiáveis. Por exemplo, reduzir a reforma política à luta para que os partidos continuem obrigados a repetir nos Estados as coligações feitas para a eleição no plano nacional é uma batalha que vale a pena, pois pode ser essencial à reeleição do presidente Luiz Inácio da Silva.

Não é o caso da proposta de reforma sindical enviada há pouco pelo Executivo ao Legislativo, cujo potencial de atrito - expresso pelo ano de discussões sem consenso e pelas reações contrárias surgidas após sua chegada ao Congresso - está sendo considerado um tanto alto demais.

As entidades patronais reagiram contra, bem como os sindicatos e as centrais andam em completo desacerto pelo que se viu nessas poucas semanas de tramitação da reforma no Parlamento.

Junte-se a isso o ambiente de crise de confiança entre o Palácio do Planalto e os partidos integrantes de sua base aliada, a imprevisibilidade do presidente da Câmara, Severino Cavalcanti, e a mercurial confiabilidade do presidente do Senado, Renan Calheiros.

O ministro José Dirceu tem ouvido ultimamente de políticos - um deles o interlocutor estreante Michel Temer, presidente do PMDB - que o mais prudente é "esquecer" a reforma sindical por enquanto.

A avaliação, resumida e objetivamente, é a seguinte: se insistir, o governo está arriscado a repetir o fiasco da tramitação da Medida Provisória 232 (correção de Imposto de Renda combinada a aumento de tributos) e apanhar politicamente para, no final, não ganhar coisa alguma.

Posta na balança de perdas e ganhos, a reforma sindical só renderia prejuízos, dado que, mesmo aprovada não atende a necessidades prementes: não melhora a economia, não favorece as relações trabalhistas (pois trata da estrutura das entidades sindicais) e não contribui para a unidade da base parlamentar. Ao contrário: devido às pressões que os partidos recebem de empresários e sindicalistas, o assunto só alimenta divisões.

Escaldado pelos recentes embates perdidos, dificilmente o Planalto pagará para ver o tamanho do prejuízo. Não se trata de retirada formal da proposta, mas de uma desaceleração pela qual a reforma não anda nem desanda e continua dando a impressão de que está sendo amplamente debatida.