Título: Uma semana de crises para a dama de ferro Dilma
Autor: Gerusa Marques
Fonte: O Estado de São Paulo, 17/04/2005, Nacional, p. A6

BRASÍLIA - A ministra de Minas Energia, Dilma Rousseff, que ganhou o título de dama de ferro do governo, enfrentou uma semana aziaga, cheia de problemas e dissabores. Terça-feira a Comissão de Infra-Estrutura do Senado vetou o nome do engenheiro José Fantine, indicado por Dilma para assumir a diretoria-geral da Agência Nacional do Petróleo (ANP); no dia seguinte o ministro José Dirceu, chefe da Casa Civil, se colocou a favor da retomada das obras da usina nuclear Angra 3, que ela reprova. Dilma é contra a conclusão da obra por entender que a geração de energia nuclear não é alternativa economicamente viável neste momento para aumentar a oferta energética, principalmente porque o País ainda dispõe de muitos recursos para produzir energia de outras fontes - como a hidrelétrica e a eólica - que trazem menos riscos e são mais baratas.

A seu lado se enfileirou a ministra do Meio Ambiente, Marina Silva, que também deu parecer contra a construção de Angra 3, sob o argumento de que a geração nuclear não é prioridade no momento. O Ministério do Meio Ambiente se preocupa com a falta de tecnologia para garantir uma operação segura da usina e para a destinação final dos rejeitos nucleares. Dilma conseguiu até apoio do grupo ambientalista Greenpeace, que é radicalmente contra a construção da terceira usina nuclear.

No outro front, Dirceu surgiu como aliado de peso do ministro da Ciência e Tecnologia, Eduardo Campos, que vê em Angra 3 um projeto fundamental para viabilizar o programa nuclear brasileiro. Nela já foram investidos US$ 780 milhões (cerca de R$ 2,1 bilhões) e para concluí-la serão necessários mais US$ 1,8 bilhão (cerca de R$ 4,8 bilhões).

Ontem Dirceu reiterou sua posição. Num encontro petista, em Brasília, reafirmou que apresentará parecer favorável à retomada das obras de Angra III no Conselho Nacional de Política Energética (CNPE). Ele diz reconhecer que a energia nuclear é mais cara, mas sustenta que é a favor da retomada por por razões políticas e estratégicas. Diplomaticamente, negou que houvesse uma crise entre o Palácio do Planalto e o Ministério das Minas e Energia, mas, com o empate no conselho, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva é que vai desempatar o jogo.

CORPO FECHADO

Dilma atravessou ilesa os momentos mais críticos do governo, inclusive das duas tentativas de reforma ministerial. Suas qualidades técnicas sempre se sobrepuseram à falta de experiência política. Mas foi pela via desse último ponto fraco que ela abriu espaço para sofrer um grande golpe em sua cidadela, até aqui invicta.

Outra parte dos problemas enfrentados por Dilma surgiu, nas últimas semanas no Piauí, terra dos senadores Heráclito Fortes (PFL) e Alberto Silva (PMDB). Uma crise que contrapôs petistas e peemedebistas em torno da Companhia Energética do Piauí (Cepisa), presidida por Edilson Uchoa, um apadrinhado de Alberto Silva. Ele foi acusado publicamente de irregularidades pela diretora administrativa, a petista Zenaide Lustosa. O impasse explodiu na mesa de Dilma.

Diante da crise, o governo decidiu demitir Uchoa e pedir a Silva que indicasse outra apadrinhado para o cargo. O senador teria indicado o engenheiro Jorge Targa, mas insistiu que Uchoa fosse mantido em outra diretoria da empresa.

A Cepisa, que enfrentou sérias dificuldades financeiras e de gestão, foi federalizada em 1997, por não ter condições de ser privatizada. Com o atraso nas obras de eletrificação que a Cepisa tocava, a Eletrobrás interveio, criando mais insatisfação entre políticos e empresários piauienses. A distribuidora piauiense perdeu o poder de gerir uma verba de R$ 64 milhões destinados à construção de linhas de transmissão, por ter atrasado a obra.

O projeto passou a ser gerido pela Companhia Hidrelétrica do S. Francisco (Chesf). As obras continuaram sendo feitas no Piauí, e só mudou a mão que assinava os cheques, mas nessa semana os peemedebistas rebeldes usaram esse fato para dizer que o governo tinha tirado o dinheiro do Estado.