Título: Prefeito admite empregar 'apenas' 15 parentes
Autor: José Antonio Pedriali
Fonte: O Estado de São Paulo, 17/04/2005, Nacional, p. A12

SALVADOR - As conversas na aprazível Praça da Bandeira da cidade baiana de Uruçuca ultimamente não versam sobre a recuperação das roças de cacau do município, devastadas na década de 90 pela praga conhecida como "vassoura-de-bruxa". O burburinho gira em torno do prefeito Dílson Argolo (PSC), que tem se revelado um discípulo fiel do presidente da Câmara, Severino Cavalcanti (PP-PE), ao arrumar emprego na máquina municipal para a sua parentela. Os adversários de Argolo contabilizam 38 parentes empregados, um recorde entre os 417 municípios do Estado. Ele se defende, admitindo "apenas" 15 (dos quais quatro seriam concursados), número que considera inexpressivo diante dos 500 familiares que calcula ter em Uruçuca. A polêmica foi parar no Ministério Público da comarca local, que passou a investigar as nomeações do prefeito depois que alguns moradores selecionados em concurso para a prefeitura não foram chamados. Atribuíram ter perdido as vagas à política de compadrio de Argolo. Pediram o afastamento do prefeito, mas o advogado dele, Natanael Pereira da Silva, obteve liminar no Supremo Tribunal Federal, em março, que o manteve no cargo.

A professora Divaritana Ribeiro é uma das poucas funcionárias municipais que não têm medo de reclamar do prefeito. Recentemente, ela protocolou uma queixa no Ministério da Educação contra a prefeitura pelo fato de os recursos do Fundef não terem sido usados para o pagamento do 13.º salário das professoras. "Não tenho interesse político, tenho direitos que pretendo defender", disse, indignada com o nepotismo. Com a estabilidade no emprego graças aos 23 anos de trabalho como educadora, Divaritana não duvida que possa ser punida com a demissão, "pois aqui não tem lei". Mas garante: "Vou bater nas portas da Justiça".

CRIME ELEITORAL

Em outro processo, aberto pela ex-promotora de Uruçuca Roberta Rocha Fonseca, o prefeito é acusado de uma série de crimes eleitorais cometidos no ano passado, quando se reelegeu com uma margem de 270 votos. Uma das estratégias de campanha mais curiosas de Argolo foi sortear empregos de gari, dois meses antes da eleição, em troca de votos. Logo após o resultado, demitiu os contratados. Conforme o advogado Silva, essa é uma política de governo para combater o desemprego e os contratos são temporários.

A maior parte dos servidores-parentes do prefeito são sobrinhos, como as secretárias da Educação, Jaira Farias Argolo, e da Saúde, Maria Rita Argolo, e o secretário de Turismo, Sinval Argolo. Há também cunhados e casados com sobrinhos. Dois filhos do prefeito, Lúcio e Lian Argolo, não são contratados pela prefeitura, mas foram nomeados professores através de um convênio firmado com a Secretaria de Educação do Estado que permite a indicação de servidores sem a realização de concurso público pelo chefe político local. Os salários dessa tropa variam de R$ 1,2 mil (de secretário municipal) a R$ 274,00, pago a um sobrinho que tem carro locado à prefeitura. O principal adversário político de Argolo, o ex-prefeito Moacir Leite Júnior (PT do B), fez as contas e disse que a parentela custa ao erário público quase R$ 30 mil por mês, fora o salário do prefeito, de R$ 6 mil.